domingo, 6 de março de 2022

transar com o espaço-tempo existente na linha tênue entre dois corpos em três partes, parte três

Eu quero te escrever poemas, cartas e textos para tentar, de alguma maneira, expressar pelas palavras o que meu coração já sente. Tentar descrever o que meu rosto já demonstra quando encontra o seu. Tentar revelar o que acontece aqui dentro do peito, da barriga, da buceta quando os olhares se tocam, os lábios se encontram e as mãos apalpam os corpos.

Eu quero compartilhar minha existência contigo e te levar comigo para onde eu for. Quero trocar comentários idiotas, sorrir desconcertada e rir de besteiras contigo.

Eu quero sentir o seu calor, acariciar sua pele macia, puxar seus cabelos, morder seu pescoço, apertar sua bunda, lamber sua vulva e sentir o prazer do seu êxtase.

Eu queria te escrever palavras bonitas, mas só saíram as apaixonadas.

E talvez nada disso seja suficiente ou eficiente em demonstrar o turbilhão vulcânico que eu sinto por você.

transar com o espaço-tempo existente na linha tênue entre dois corpos em três partes, parte dois

eu
ando
viciada
em você
nos seus
contornos
retornos
adornos
no seu
ser
e estar
serestar
para
na festa
te encontrar
com o
olhar
te dançar
com o ritmo
do coração
o pulso
da emoção
o calor
úmido
do tesão
te penetrar
sentindo
teu corpo
por dentro
o prazer
te dar
de dar
de te dar
e
guardar
comigo
a sua
vibração
e expressão
existencial
do gozo
partilhado
pelo encontro
dos corpos
o toque
das peles
e os fluidos
que se trocam

transar com o espaço-tempo existente na linha tênue entre dois corpos em três partes, parte um

mexo
e remexo
os lençóis da cama

deitada no teu abraço
sentindo os corpos
preenchendo o espaço
ouvindo teu coração bater
e a sua barriga
inspirar
expirar
subir e descer

eu quero escutar as tuas músicas
conhecer seus gostos e desgostos
partilhar dos teus sonhos
acompanhar sua caminhada
e seguir do seu lado
sentindo teu cheiro
teu calor
teu suor
teu toque
tua boca

quero beijar cada cantinho do seu corpo
tocar sua pele por completo
acariciar suas subjetividades com as minhas
compartilhar vulnerabilidades
no pequeno cemitério de coisas
que ficam pra trás
e impulsionam pra frente

todo tanto parece pouco
toda distância parece longe demais
todo tempo parece insuficiente

perdi a palavra, ela disse
perdi a palavra por aí
se tu encontrar, joga ela pra cá

domingo, 26 de dezembro de 2021

com a cabeça no travesseiro

eu 

tenho tido 

inspirações diárias

enquanto te envolvo

com meus braços

trocando suor

durante a noite

mas

logo antes

de adormecer

quando as respirações

sincronizam

ela vem

eu sinto

é quase físico

como o seu toque

a sua língua

sua respiração

ela sopra

palavras

que

poeticamente

se ordenam

porém

eu 

não quero te largar

ou te acordar

e deixo ela passar

como

a

volatilidade

e

impermanência

da sua presença

sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

sobre o silênicio

as palavras me faltam

todos os sentimentos

engasgados

na guela

as

palavras

faltam

parece que me escapam

da boca

somem

na língua

me faltam

palavras

mas o corpo

esquenta

sua

abraça

aperta

geme

contorce

estica

e relaxa

goza

as palavras

não dão conta

não comportam

tamanha emoção

e

me faltam

tropeço

na calçada

molhada

segura firme

acha o centro

respira

engole

as palavras me faltam

engole

respira

acha o centro

segura firme

molhada

na calçada

tropeço

me faltam

e

tamanha emoção

não comportam

não dão conta

as palavras

goza

e relaxa

estica

contorce

geme

aperta

abraça

sua

esquenta

o corpo

palavras

me faltam

na língua

somem

da boca

parece que me escapam

faltam

as

palavras

na guela

engasgados

todos os sentimentos

as palavras me faltam

segunda-feira, 24 de maio de 2021

das saudades

Todo dia acordo com uma saudade diferente
Semana passada foi saudade de casa
Na semana anterior, das amigas
No final de semana tive saudade de poder sair sem me preocupar com máscara
Antes de ontem tive saudade do seu olhar, logo cedinho ao acordar, ainda meio inchado me encarando de cara amassada e sorriso no rosto

"Bom dia"

Ontem tive saudade do seu colo, de ficar bem pertinho, de beijar seu corpo todo, de deitar coladinhas e dormir se aquecendo no calor uma da outra
Hoje acordei com saudade do seu toque macio, dos abraços apertados, das aventuras que vivemos e dos planos que a gente tinha

Todo dia acordo com uma saudade diferente
Tenho saudade de mim, me sentindo amada por você
Tenho saudade de te amar, sem medo, com todas as minhas células

Todo dia acordo com uma saudade diferente
E todo dia tenho saudade de nós

domingo, 9 de maio de 2021

dos elementos

Eu queria ser vento

soprar distante e constante

esvoaçar os vestidos

movimentar as chuvas

e amenizar a queda das folhas


Eu queria ser água

correr os rios

levantar as ondas do mar

salgar os corpos

ser contida nas geleiras

evaporar para os céus

e chover nas florestas


Eu queria ser fogo

derreter, queimar

transformar a matéria

aquecer as casas e corações


Eu queria ser terra

mutante

apoio

suporte

maleável e rija


Eu queria ser muitas coisas

mas o que não sou

é o seu amor

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

por que coração doído escreve bonito?

expulso

impulso

refluxo

presente

consciente

ausente

reflexão

inversão

invasão

repenso

divisão

contramão

desvio

solidão


pra estar junto

precisa ser igual?

pra crescer

precisa doer?

e quando acontecer

eu posso chorar?


fazer correr

os rios

e

transbordar

as cachoeiras

de dentro

de mim

sentir faltar

o ar

e

soluçar

acolher

(minh)a vulnerabilidade

de ser

inteira


sentir

o aperto

no peito

que esmaga

o coração

mas sentir

não é em vão

o que

(mais) dói

é

não se apaixonar

pelas simplicidades

da vida

não se encantar

pelas filosofias

existenciais

não se rir

das piadas

banais


eu queria te falar tantas coisas

mas elas não cabem em palavras

eu queria que pudesse se ver

com meus olhos

e olhar pra si

com meu coração

com(paixão)

eu queria que soubesse

que mesmo sem resposta

a caixa torácica

pulsa

e

grita

sem medo

de falhar

buscando

aprimorar

o

impulso

refluxo

presente

consciente

que

invade

a contramão

desvia

a solidão

repensa

reflete

e

expulsa

a divisão

quarta-feira, 18 de março de 2020

Manifesto da Identidade


(29/02/2020 - o dia que nem sempre existe)

gota
água
pingo
pingo
pingo
pingo
pingo
chuva
vento
corre
córrego
mutante
caracol
potência
dialógica
flui
flui
flui
desses
flui
dezes
no interior
amplo
na viela
silêncio
no sossego
essência
h(á)mar
no estar
existe
no éter
suficiência
o encontro
é ancestral
re-inventa
re-liga
re-conecta
os espaços
destrava
potencialmente
as identidades
des
cobre
que
há mais
no mar
do que
só água
consciência
encruzilhada
achada
no nosso
olhar
os sapatos
são os nossos
e
sabemos
onde
aperta
espreme
torce
estende
estica
e deixa
secar
soprar
suspirar
lentamente
de dentro
o que cabe
na potência
de
se
colorir
as
possibilidades
o
existir
não será
mero
desfrutar
é sobre
também pertencer
e
sentir
profundidade
completude
possibilidade
realização
plena
iiiiiiin
nomeável
interminável
incontentação
em
contexto
contesto
lugar
na
experiência
escrevivência
escrepotência
de todas
as coisas
que
cabem
na
boca

terça-feira, 12 de novembro de 2019

dia 95

Pois, como se nota, não conseguir manter meu diário. 3 meses se passaram e o calor foi embora. Agora realmente já está frio. Um frio congelante que parece entranhar em cada fresta livre de carne a mostra. No Porto a chuva chegou com força, os dias tem sido cinzentos e escuros. Pelo sul o que ataca mesmo é o vento. Ainda não consigo dizer bem o que é pior. Acho que o frio é o pior. E olha que no Brasil eu era a primeira a dizer que amava frio. Ainda gosto, mas depois de passar frios mais frios que os frios que eu conhecia comecei a perceber que, assim como o calor, o frio é relativo e que o que dói mesmo é não ver o sol. Não ver o céu azul e as nuvens a passar. O cinza deprime um bocado, não dá vontade de fazer nada além de ficar deitada no quentinho assistindo um filme ou uma série. Hoje faço anos, é como dizem cá. Um quarto de século que se passa. Um quarto de século de experiências. Um quarto. É de onde escrevo nesse momento. Um quarto, com duas camas, uma mesa de cabeceira, um aquecedor. Nunca tive um aquecedor. Nunca passei meu aniversário no frio, muito louco isso. A gente muda de lugar e as perspectivas mudam. Tudo muda. Até a gente muda. E como muda. Mas tenho sido muito feliz com minhas escolhas, caso queiram saber. Tenho sido contemplada por todas elas, apesar dos diversos momentos de questionamentos "será que eu deveria ter feito isso? será que eu não estaria melhor assim ou assado? será que é isso mesmo que eu deveria estar fazendo nesse momento?". Porém cada vez mais tenho percebido que eu deveria estar onde eu quero estar, e por mais que eu queira estar em dois lugares ao mesmo tempo ainda não inventaram maneira de se fazer isso. Também tenho percebido que a vontade e o desejo apenas nos impulsionam a movimentar o que quer que precisamos movimentar, não necessariamente elas ditam as regras. Afinal, não sabemos quem dita as regras. Essa entidade ditadora tem muitos nomes e muitas interpretações. Eu a chamo de universo. E tento manter um diálogo harmonioso com ele, tento me colocar como ser-força-energia pensante e atuante enquanto tento ouvir seus conselhos e mensagens subjetivas e metafóricas. E é justamente nesse tentar perceber e interpretar seus conselhos que me encontro agora, no meu dia de anos, em uma residência artística, com pessoas que não tenho nenhuma intimidade. Ouvi dizer uma vez que nosso dia de ano é um reflexo de como será o nosso ano que se inicia, e até agora tem se realizado dessa maneira pra mim. Veremos o que esse quarto de século completos trará em sua bagagem. Enquanto isso, trabalho.