domingo, 26 de maio de 2013

Quarto 709

Andou pela estrada como se fosse sábado
Com as ideias perambulando pela mente
O infinito pela frente
Tudo junto, ao mesmo tempo, perturbado

Caraminholas de coisa nenhuma
Repletas de ideais
Pensamentos abismais
Desejo que não se costuma

Lá na construção
No fim da rua que segue
Antes que o corpo se esmague
E se erga do chão

E canta
Canta uma canção
De amor ou solidão
Enquanto chega em casa e janta

A mesma rotina
Que cai logo na mesmisse
E logo se abduzisse
Recaindo à nicotina

Mas chegando no quarto
Encontra você na cama
Paixão que arde e inflama
Coração lhe sobe à boca
e enfarta

terça-feira, 21 de maio de 2013

Amor Vanguardista

a gente se gasta
               se usa
            e se descobre

cada parte
cada momento
cada ser
cada respiração
cada um

                                                                                                                  a gente se ama
                                                                                                                                 se delicia
                                                                                                                              e se aguenta

cada qual
cada não pressão
cada seu
cada não estada
cada espaço

e assim se deu
               se ficou
            e se fixou

cada sendo
cada desigual
cada desencontro
cada olhar
cada ar

                                                                               e assim se foram
                                                                                                            se passam anos
                                                                                                      e se vivem vidas
cada partida
cada doença
cada vida
cada despedida
cada solitude

desse jeito se foi
acabou
morreu
morreu enforcada
morreu expressionista

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Minha Sina

(Um assassinato para a minha querida psicopata Marília.)

Acordei. Me sentia meio estranho. A noite anterior não havia me caído muito bem. No que levantei, estava com a visão embaçada, meio turva. Sentei na beirada da cama tentando voltar ao normal antes de levantar. Olhei em volta e o quarto estava todo bagunçado, muitas coisas fora do lugar. E não me recordo de nada. Vou até o banheiro e lavo o rosto e, por algum motivo desconhecido, não me olho no espelho.

Vou à janela. Abro-a. A luz na cara do sol a pino ofusca minha visão. Caramba! Já são meio-dia. Não imaginava que tinha dormido tanto... Lugar desconhecido. Não reconheço a vista. Olho para dentro do apartamento e também não o reconheço.

Uma mesa. Em cima, um box de cigarros. Malboro vermelho. Meu preferido. Mas não é minha casa. Meio inquieto, pego um e começo a fumar. Alívio. Como se por um segundo não importasse aonde eu estava ou como havia chegado lá. Não importam meus problemas, nada. Apenas aquele cigarro. Cada tragada me liberta um pouco mais daquela agonia de não saber o que aconteceu ou o que está acontecendo.

Acabando o cigarro vou andando pela casa. Vendo se há mais alguém por lá. Passo por uma porta, por outra. E quando vou passar pela terceira vejo um vulto dentro. Paro de repente e espero um pouco. Dou uma espiada dentro do cômodo. Outro homem. Ele vasculhava as gavetas de uma cômoda. Procurava incessantemente por algo que não conseguia achar. Um suspiro. Ele achou. Eu não conseguia ver o que era, e então ele abaixou os braços. Uma arma. Parei de olhar naquele instante. Respirei fundo e fui procurar um lugar para me esconder. Corri para a sala e logo achei a cozinha.

Uma cozinha um tanto quanto peculiar. Parecia um açougueiro. Facas e mais facas das mais afiadas possíveis. O que diabos esse homem faz com essas facas? Bom, acho que preferia não saber isso. Peguei uma e me abaixei atrás da bancada. A respiração a mil e as batidas do coração quase na minha boca não me ajudavam a manter o controle. Ouvi passos na sala e o homem bufando.

Entrou na cozinha. Prendi minha respiração. Era agora ou nunca. Levantei bruscamente e, sem nem ao menos ver o rosto do homem, minha mão avançou em sua barriga. Ele parou. Gruniu de dor. Caímos no chão.

Ao me levantar de cima do homem fui finalmente reparar em seu rosto. Era eu! Mas como? Que delírio era esse? Como poderia eu ter me matado? Isso não é possível!

Acordei. Sonho louco esse. Me sentia meio estranho. A noite anterior não havia me caído muito bem. No que levantei, estava com a visão embaçada, meio turva. Sentei na beirada da cama tentando voltar ao normal antes de levantar. Olhei em volta e o quarto estava todo bagunçado, muitas coisas fora do lugar. E não me recordo de nada, só do sonho. Vou até o banheiro e lavo o rosto e, por algum motivo desconhecido, não me olho no espelho.

Vou até a cozinha tomar uma água. Abro a geladeira e pego uma. Fechando a porta reparo, um corpo no chão. Como? O que aconteceu? Por que tem um corpo na minha cozinha? Não pode ser... Foi só um sonho. Um sonho. Olho minhas mãos e estão cobertas de sangue. Olho o rosto do corpo. Meu. Corro no banheiro para lavar as mãos. O espelho capta meu olhar. Mas não me reconheço, não reconheço meu olhar. Estava vazio.

Mal sabia eu que, no final das contas, quem havia morrido era realmente eu. E sim, eu mesmo havia me matado. O sonho apenas me relembrava disso criando todo um cenário em que eu matava outro eu. Um eu refugiado numa casa estranha se defendendo de um eu furioso com uma arma. O sonho representava que - havia eu - morrido por dentro.

domingo, 12 de maio de 2013

Mãe-dade

(Em especial para minhas mães: Gisele, Maria Luiza, Dani e Cris. Mas, em geral, para todas as mães, feliz dia das mães!)

Amor
Carinho
Paixão
Amizade
Mãe, quando ama, não conta esforço para fazer um filho feliz
Brigas
Encheções de saco
Chatiações
Xingamentos
Mãe, quando ama, faz o que estiver ao alcance para não ver seu filho errar
Mãe, quando é mãe, não tem jeito, protege até dizer chega (e mais um pouco!)
Tem medo de deixar o filho sair, criar independência e quebrar a cara fazendo coisa errada
Não quer perder sua cria, não quer isso nem aquilo
Possui uma carência insaciável e dá pitaco na vida dos filhos até quando crescem e saem de casa
"Não dá pra evitar, é mais forte que eu."
Nem sequer sabem que reclamam de suas mães fazendo a mesma coisa com os seus filhos
É um ciclo vicioso
Mas, apesar de tudo, são mães
São amadas
São únicas
Mas com o poder de poderem ser mais de uma!
Quem disse que não podemos escolher uma mãe diferente de vez em quando?
Porque carinho de mãe
É mais que bondade
É mais que amizade
Não se substitui
Só se multiplica
Porque mãe se escreve com amor

domingo, 5 de maio de 2013

Out There (ou Something)

(Nem preciso dizer a quem ou a quê é dedicado esse texto, ele fala por si próprio.)

palavras não conseguem explicar a sensação
não descrevem os sentimentos
não contém as emoções

muita coisa ao mesmo tempo
e também nada

um sentimento de satisfação, de plenitude que não se conhece
é até difícil escrever
até difícil se expressar
até difícil voltar a andar

"You're asking me:
Will my love grow?
I don't know"

impossível não se encantar
não se impressionar
não se apaixonar

gente de toda idade
de várias gerações
unidas com um motivo
cantando a uma voz
com um coração
a uma pessoa
A pessoa

"Then 'he' appeared
A love so fine
My valentine"

emoção que não se contém
emoção que não se sente só

depois de tudo, eu entendo porque ele ainda o faz
ele não precisa
mas a sensação de fazer é a melhor do mundo
é como, para mim, atuar
estar num palco
e para ele é isso
é amor
e acho que ele ainda se emociona
ainda se excita
ainda se apaixona

"And in the end
The love you take
Is equal
To the love you make" 

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Cardiologista

"Me fazes bem! Me faz bem teu amor, tua simplicidade, tua singeleza! Me faz bem tua sinceridade, serenidade e presteza! Me fazes bem... Cumularemos nossos anos com doses generosas um do outro, somos um!"
"Você também me faz bem com seus ensinamentos e suas experiências. Não sou de ter ciúme, mas então achei você. Vamos devagar, crescendo. Vamos um."
"Coração não é exclusivo, amamos pessoas diferentes em tempos diferentes. E isso não diminui o amor em nada. Sinta-se amada, com o melhor do meu amor! Os corações partilham o mesmo compasso. Exclusividade sufoca, cansa, martiriza. O amor precisa respirar! Lembre-se do tum tum tá do coração, é um movimento de prisões e fugas."
"Acho que é falta..."
"A falta é amiga da conquista. Da saudade. Torna os reencontros mais plenos."
"Ao mesmo tempo, é boa e ruim. Saber que faz falta significa que não é coisa qualquer, de se jogar fora. Tem passado, tem história, tem presença. Tem amor. E futuro."
"Amo-te mais que chuva!"
"Amo-te mais que frio!"
"Chuva e frio. A dor produz. Fique fria... o meu coração te aquece!"


PROCURA-SE ALGUÉM QUE CUIDE DE CORAÇÃO


Quando palavras não são o bastante. Um olhar. E pronto. E aí começa uma vida. E logo acaba outra. Rápido assim. Segundos. Aqui, lá, em todo lugar. Estamos sempre em sinapse. Sem se tocar. Sem se encontrar. Pois vamos. Viver. Viver simbólicamente essa paixão. Eu preciso falar. Está me entalando a garganta. Está preso e me engasga a cada segundo que passa. Leio teu nome, te vejo na rua. Até mesmo aonde você não está. Eu hesito. Não sai.

Escuta. Eu preciso te falar...

E é isso. E tudo trava. Eu sei como falar e sei exatamente o que dizer. Tenho o dom com as palavras. Sei manipulá-las exatamente ao meu prazer. Mas na hora que eu realmente preciso dizê-las, elas não me vêm à boca. Eu falo besteiras e me enrolo. As bochechas coram e o calor me invade.


PROCURA-SE ALGUÉM QUE CUIDE


Outro dia pensava em você. Quando percebi já estava acontecendo. Algo incontrolável. Maior que eu. Não que fosse ruim, mas não consigo te tirar da cabeça. Não é questão de pensar de vez em quando, é questão de nem sair pra poder parar de pensar. Me distraio. Quando paro pra perceber, você logo invade meus pensamentos novamente. Infinitamente intocável. Eterna paixão em sinapse. Nos encontramos mas nunca estamos realmente juntos.


PROCURA-SE UM CORAÇÃO


(Não é porque fala de amor que não pode ser entre amigos, apenas entre pessoas que se amam, sem segundas intenções ou desejos. Se amam pelo que são, como são. Mas nada impede que seja, também, uma declaração de amor.)