sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Plano Convexo

Eu queria entender porque tem que ser assim... Porque é tão difícil. Todo mundo é humano e isso deveria ser um ótimo motivo para que as relações fossem mais fáceis. Mas não é. Parece que tudo piora quando se pensa por esse lado.

Eu queria entender porque eu sou assim. Porque ser eu é tão difícil. Pensar do jeito que eu penso e agir da minha maneira. Queria saber porque a vida real é desse jeito. Porque nos filmes tudo parece mais fácil, e as pessoas se entendem e se ajeitam de uma maneira tão mais harmoniosa.

Eu queria entender porque você é assim. Porque é tão difícil falar com você. Porque é tão difícil fazer você ver o mundo do meu jeito. Você já teve a minha idade, e eu queria saber o que faria no meu lugar. Você sabe que é difícil.

Eu queria.

Mas acho que eu nunca vou entender essas coisas. Parece que são aquelas coisas que simplesmente não se entende. São aquelas coisas que apenas o tempo as tornam mais tranquilas, apenas o tempo faz elas passarem. Mas não, elas não serão entendidas. Serão apenas aceitas.

Eu não entendo...

Não. Essa é a palavra que mais tem me perseguido nos últimos meses. Não aceito. Não entendo. Não posso. Não devia. Não queria. Não possuo. Não consigo. Não não não não! Mas... tem outra coisa, me incomoda, me deixa acordada, me enche a cabeça... por quê?

Junte as duas e temos o caos. O caos perfeito, a teoria que me destrói. Me consome por dentro como a fome, como a fome que se transcende de tão intensa. Me deixa vazia. Me deixa tão sem nada que parece que sumo. Parece que nem existo. Parece que perambulo pela vida sem ser vista, sem ser reconhecida.

E os olhos. Os olhos ficam vazios. Ficam sem cor, sem forma, sem luz. Olham mas não enxergam. Parece que buscam sempre. Buscam algo que não está lá. Como procurar seu rosto na multidão, sabendo que é quase impossível encontrá-lo.

Agora, me diz uma coisa. Isso importa de quê?

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Ausência de Mim

Sobre a sentida loucura que por segundos me invadiu. Mas já de cara me possuiu. Me penetrou e infiltrou o meu ser. Sobre o passado momento em que percebi que me senti louca. Senti como era chegar nesse lugar e não controlá-lo. Em nem fazer ideia de como cheguei, quando ia sair e se ia sair. Sobre o não controle, a ausência de mim. Eu tive que escrever sobre isso.

Eu me senti louca. Eu estava ali simplesmente, e louca. E eu não sabia mais o que era o quê. Numa mescla de sentidos, sensações e emoções, eu nada entendia. Era a loucura, que me invadia. Eram lágrimas e risos, soluços e gargalhadas que saíam da minha boca. Os olhos vermelhos, o rosto molhado e a boca sorrindo. Era a loucura. Era a ternura. Era a amargura. Era a insegurança e a confiança de todos os erros. A destreza e a incerteza de todos os avanços. A vivência e a infantilidade de todas as doenças. Eu, me senti louca. Era sem porquê e sem preocupação. Sem dever nem direção. Sem te ver mas emoção. A dualidade, a pluralidade. O paradoxo, ao mesmo tempo. Eu me senti, louca. Entre lágrimas desentendidas e sorrisos desacordados. Entre forças perdidas e um peito desabrochado. Entre palavras não ditas e a vida por um abraço. Eu, louca. E era daquele jeito que não se entende, só se sabe e se segue em frente. Ou melhor, só segue mesmo. Porque saber, isso só vem depois. O estado declarado, desperto, acobreado. Distante e mal cuidado. Descoberto. Universo, intenso, caótico, inteiro. Eu estava louca.

Preciso de imagens que trazem a sobriedade. Não entender o que se passa com a minha cabeça é muito perturbador. Eu não sei se aguento esse estado mais. Eu quero que pare. Quero que saia. Mas o que sou eu perto da loucura? Que controle tenho sobre algo sem controle? Eu me senti louca. Eu estava louca. Uma loucura lúcida que eu me dava conta mas não conseguia combater. Não conseguia entender. Louca? Eu?

Eu. Me senti louca. Me senti fora do lugar comum, fora do lugar esperado, fora. Me senti além, aquém. Louca. Louca de mim.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Décimo Andar

de vez em quando
eu me pego pensando uns absurdos
umas coisas loucas
desperto no meio da noite
e não entendo
não esqueço
corro em círculos
tentando achar a saída
desse lugar
sem portas
ou janelas
desse quarto quadrado
ao avesso

às vezes
eu queria sair gritando
pela rua
ocupando o espaço
do som
ao prédio
pra acabar com esse tédio
de dentro de mim

tem dias que amanheço
pensando
no fim dos dias
nas noites dos sóis
nos becos
nas partidas
e sem dizer
viajo
vou embora
e me despeço sem abraço
mando carinho
pelo espaço
desenhando
com meu traço
a reta-curva-torta
dos meus passos


tem dias que eu só queria sair.

domingo, 11 de dezembro de 2016

Ode ao amor II

Se olharam de lado

Distantes

Despertos

Profundo

Espesso


"O que vem depois disso?"


Não sabido

Não descrito

Não implícito

A mostra


Latente

Ardente

Vazante

Corrente

Aberto

Ferida

Sangrando

Por dentro


Um dia desses me disseram que distante era o nosso tempo, nosso descompasso, nosso passo atrasado. Mas descobri, ao longo dos dias, que distante era o nosso abraço, nosso olhar, nosso espaço. Descobri contigo que a distância é maior rente à pele. Descamando as entranhas e penetrando minhas vísceras. Descobri que amar também é perder. 

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Ode ao amor

De cabeceira

De trás pra frente

Diferente

E contente

Como a gente


Dispersa

Desperdiçada

Desgarrada

Amada


Mal dizia

O pensamento

Que contava

Minha tia

"Desse mal

O mundo sofre

Mas é o que trás

calmaria"


Nem de longe

Eu percebia

Discreto

Me seduzia

Distante

Me percebia


Avoa

Desliza

Descalça

Descama

Derrama


Me conta

Depois

Ou me distrai

De manhã

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Manifesto-ação

distraída

escondida

despercebida


sabia e dizia

tentava se explicar


o que penso também importa

não quero saber se discorda

eu também penso

também posso


dizer que é assim

e sempre foi

é muito fácil


difícil é mudar

questionar

bater o pé

não arredar

levar porrada

e levantar

lutar


parar

virar

trocar

causar

alterar a ordem natural das coisas


para

enfim

enxergar

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Ocupação

Cansei de espiar
Pelos cantos dos olhares
Dispersa na multidão
Atravessa
Dispara no peito
A emoção

Do início e de volta
Ao começo
Desconfiada do tempo
Esquecida
Sem vento
Estado
Decidida no momento
Contemplo

- Olha aqui
- Não tô te vendo

Pausa
Segundos momentos
Descasos
Descompassos
Acertos
E memórias

Sofá cama mesa
E banho
A primavera chegou

sábado, 17 de setembro de 2016

Transeunte

Efêmero
Efêmero
Como o dia, a noite
Como as pequenas partículas
Como a respiração
Efêmero
Distante e eterno
Constante e momento
Efêmero
Como o dia que anoitece
fogo.

___________________________________________

sobe
sobe
a fumaça sobe
a fumaça desce
e a fumaça passa
exatamente por aquele buraco
que eu acreditava não existir
que eu jurava não encontrar mais
saía
livre e solta
dispersa no ar
preenchendo
olhar

sábado, 4 de junho de 2016

A Última Vértebra

(Para Salina. Para Ana Teixeira e Stéphane Brodt. Para o Amok Teatro. Para os atores. Para o teatro.)

Os pés que tocam o chão
energia

A força que leva a intenção
sinestesia

Os olhos enxergam
mas é o coração que
sinceramente


Teu solo é sagrado
o chão que toca em seus pés
desloca
e me envolve
com o mais sincero abraço
de gratidão

E diante da imensidão
de te ver
construir serenamente
me arrebatar de repente
uma lágrima escorre
sensação

A gota se desmancha no meu rosto
que sinceramente chora
sinceramente ri
e te contempla
sinceramente sua

Diante de você me entrego
de corpo e alma
e esses corpos que diante de mim
se estendem
penetram a calma
e desmancham a saliência
que brotava em minha mente

A vastidão de teus silêncios
e o encanto de teus versos
me acalmam
e ao mesmo tempo me emudecem
a ponto da reação se transpassar
na afetação

Troca
Afeto
Emoção
Sinestesia
Aprendizado
Gratidão

sábado, 14 de maio de 2016

Pois agora vou falar

As pessoas falam que "querer não é poder" pra suprimir o desejo de querer dos outros, pois querer é sim poder.

O erro da desconsideração
do desprezo
A frieza dói
Não me importo
Mas dói
Não tinha que ser assim
Vale a pena
(E é uma frase clichê mas preste atenção na veracidade irrevogável das palavras acima)
É necessária a compreensão
de ver o coração
A gente sente
e se desfaz em sentimento
Des culpa
a culpa
que não existe
mas se disfarça
nos momentos
E nos tempos sem passado
Nas horas incansáveis
Que existem 
E que insistem em dizer que não
Que somos menos
Que não tem que ser assim
Pois eu digo que tem
Digo que vai ser
E digo por várias
Por vários
Por muitas e muitos
Não acaba
Apenas começa
E recomeçando
Se move, se muda, se espia
E desvia
Dessa consciência
Distorcida e absorvida
E se torna resolvida
E plena de si.

sábado, 19 de março de 2016

Sem saber o que gritar, digo apenas o que me entala.

O coração dá o pulso do grito que ecoa dentro de mim
De nós e do tempo que nos pede com calor
Ação.

O sangue nas veias corre por explicação
Se enchendo de emoção que salta dos olhos por rios 
De afetação.

No final
A busca compõe de certos errados e inversos contrários
Universos de diferenças extensas que complementam a exposição.

E digo que não
Não vai ser desse jeito nem do outro
Mas conjunto com todos que seguiremos nessa canção.

domingo, 7 de fevereiro de 2016

Pouco verso hoje junto.

Eu não faço questão
do tormento ou da razão
Mas esse riso de expressão
não justifica nada

Eu quero a emoção
explica a ação
E que eu me contenha de paixão
mas me deixe

Entenda que não
eu quero dizer não
E seria a mais fácil expressão
da mentira

Difícil intenção
compreender pela razão
O que nem a emoção
dá conta

A seriedade da ênfase
necessária
Não
eu não faço questão

sábado, 30 de janeiro de 2016

Sobre ser Coletivo

Eu sinto um cheiro no ar.
O cheiro contagia e se espalha
Me entrelaça e se desfaz
Mais uma vez
A poética me conta sua história
Enquanto o som se faz música
As palavras viram melodias
(en)Cantam
(dis)Farçam
(des)Pedem
Com amor
Aguçado
Dessa forma
Ama(da)
Me conta
Momentos
Me canta
Dissonante
Desordenante
Contente
Brilhante
Apaixona
Me emociona
Juntos
Se completando
Se sendo
Complemento
O cheiro
Irreconhecível
Mas, ao mesmo tempo,
Inconfundível
Calor que afaga
Faz carinho
E acalma
Me vejo
Sendo mesmo
Etéreo
E impermanente
Incongruente
E
Satisfatoriamente
Fogo.
Ainda assim
Se apaga
Se acaba
Se deixa
Ir
Deixar de ser físico
Para se tornar
Cheiro
Elemento
Gosto
Memória
Conjunto
Coletivo
E história.
Vira cor de flor
Com cheiro de fósforo.