domingo, 30 de março de 2014

Janela

(Aos seus olhos e, por consequência, nossos olhares.)

É um olhar nos seus olhos tão constante que consigo te desenhar com os meus fechados. Ou mesmo se a gente nem estiver perto. Eu consigo captar todo e qualquer detalhe do seu rosto. Suas feições, suas perfeições e suas imperfeições. Seu olhar puxa o meu, e o meu o seu. É impressionante como a gente consegue se chamar apenas com o olhar. Basta nossos olhos se cruzarem uma vez e a gente se prende lá, não consegue sair. A gente nem chega a piscar enquanto se olha. Na verdade, é isso que faz a gente perder a conexão, o nosso fechar a janela da alma. A gente se olha tão intenso que parece que se penetra, se entra um dentro do outro e se esquece de sair. Talvez não seja nem se esquecer, mas se deixa ficar, se deixa estar. Se entra e se perde lá.

quinta-feira, 6 de março de 2014

cabeceira

eu tive a impressão
Mas não sei se era céu ou chão

parece que vi
E ao mesmo tempo também senti

o vasto azul do mar
Fez eu me perder no ato de amar

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Falta de cumplicidade
de reciprocidade

Dois pra lá
Dois pra cá
É simples
Como sambar

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Sempre um suspiro
Irresolvido
Esquece de terminar
Por conveniência
Por preferência
Em reverência
Ao que aconteceu
Ao que não aconteceu (também)
E ao que poderia ter acontecido
Sempre um suspiro
Irresolvível
Irreversível
Que já passou
Mas se esqueceu de seguir em frente
E entre nós ficou

domingo, 2 de março de 2014

Intermitente

Chega de maré
Me arrastando daqui pra lá
Vou firmar os pés na areia por um momento
Acho que é disso que preciso
Um pouco
Um ponto
Final de período
Mas logo passa
Vira dois pontos
E digo
"Não, agora não.
Agora é pra mim."
Daí (mais) um pouco
A gente coloca mais um
E vira reticências
Depois...

Parágrafo.