domingo, 27 de abril de 2014

Pouquidade

(Por não vê-los mais.)

Faz tempo. Passou muito tempo. Eu ando numa crise de abstinência. Já não lembro mais como é a sensação, não lembro mais da emoção, não sinto mais o coração. Parece que se não estou sendo vista pelos seus olhos, simplesmente não estou sendo vista, não estou aqui. Ok, talvez não tão dramaticamente assim. Mas me faz falta. Só a memória não é o suficiente, eu quero o acontecer novamente.

Cadê os olhos? Me encarando, me fitando, me penetrando. Se entrando, se perdendo, se ficando.

Cadê os olhares? Trocando, vivendo, olhando, sendo, estando, piscando.

Anseio seus olhos, tê-los nos meus mais uma vez. O castanho de um se misturando no castanho do outro. Anseio os poucos segundos que nossos olhares duravam. Mas, mais do que isso, anseio a intensidade que tinham. Não é possível que só eu a tenha sentido. Me recuso a acreditar nisso. Era muito intenso para tal. Talvez seja difícil entender, acreditar, aceitar, admitir, reconhecer, mas está lá. Existe.

Devo te confessar uma coisa. Não é o que desejo, mas é o que anda acontecendo. Seus olhos andam sendo substituídos por outros, involuntariamente. Eu quero os seus, mas não os estou tendo. Tenho uma carência deles, parece que me falta alguma coisa no dia a dia. Outras sensações vão me invadindo, outras emoções me consumindo. Quero o que tenho com você, mas na falta disso, vou suprindo minha "dependência" com uma seleção minuciosa de outras experiências. Na falta dos seus olhos outros me aparecem... e roubam a cena, incontrolavelmente.

O que eu não daria pra te encontrar. Ainda, sempre, espero. Espero, sempre, por você. Espero, sempre, poder encontrar seus olhos novamente. Espero, sempre, poder me perder mais uma vez na imensidão que é olhar dentro de alguém. Espero, sempre, ter mais uma conversa que seja banal. Espero, sempre, por mais um segundo. Espero, sempre.

Hoje pensei que vi você. O coração disparou. Pensei que eram seus olhos que encontrariam os meus novamente. O coração veio até a boca. Pensei que veria teu sorriso sorrir pra mim. O coração, sozinho, parou. Não era você.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

O Homem

Eu tive um sonho.

Vi
escondido por ali
atrás da vergonha e do cheiro de mulher
fumando um cachimbo e contando uma história
desenhando a vida com suas palavras
à deriva do eixo
à margem de tudo
Na beira do rio
pescando sua sorte
bebendo a luz do dia
olhou para mim
e perguntou:
"O que faz você aí, atrás da árvore?"
Pega de surpresa
não soube o que responder
saí correndo para despistar
mas parei logo a diante
Sorriu
gargalhou
pensou consigo
parou comigo
e se encontrou novamente
no profundo do rio
Falava
cantarolava
fumava
pescava
e brincava de ser só
Se perguntava se a vida
era simplesmente isso
simplesmente a beira do rio
o cachimbo na mão
e a vara na outra
uma canção na boca
e outra no coração
E o amor?
amor já era
amor já se foi
amor tinha data
e o prazo expirou
Seu amor agora era a vida
as manhãs e os fins de tarde
os nasceres e se pores do sol
a noite estrelada
a lua
o rio
a chuva
Seu amor eram os segundos
cada um importava
pois não sabia seu tempo
ou se seu prazo chegava
até ter de retornar ao fundo do rio
e de lá apenas observar
e contemplar o lado de fora
A vida de peixe não mais lhe apetecia como antes
a vida do lado de fora lhe era muito mais interessante

Acordei.

Em minha cabeça, uma história fascinante. Um homem encantador, um cachimbo e uma vara de pesca. Contava suas aventuras, seus sonhos, seu amor. Eu queria viver o mundo como ele. Queria conhecer a vida com seus olhos.

Ser peixe ser gente. Peixe grande gente grande. Peixe nada gente caminha. Respira. Peixe gente gente peixe grande pequeno mais ou menos nada nada nada respira caminha de um lado a outro pula salta dentro ou fora água doce salgada rio mar oceano terra terra terra grama verde céu azul azul mar piscina ondas mar mar mar respira nuvens chuva água céu cinza chão concreto asfalto quente calor calor calor sol manhã claridade noite escura azul profundo mar azul azul ondas ondas ondas ondas ondas ondas água caiu afogou.

Existe? Mas e se ninguém estiver olhando? Será simplesmente sonho?

domingo, 20 de abril de 2014

A Vida Embaixo da Mesa

(secreta) mente
(veloz) mente
(feliz) mente
(sintetica) mente
(aberta) mente
(explicita) mente
(interna) mente
(calma) mente
(abrangente) mente
(infeliz) mente
(sofrivel) mente
(acida) mente
(atual) mente
(social) mente
(imperfeita) mente
(ativa) mente
(indireta) mente
(discreta) mente
(imoral) mente
(perfeita) mente
(impiedosa) mente
(poetica) mente

(imple) mente

(deca) dente
(a cor r) ente
(ar) dente
(sol) poente

terça-feira, 15 de abril de 2014

E se...?

Melhor nem começar
Ou melhor ainda, nem pensar
Porque só de pensar
aquilo já te invade
e você pensa na possibilidade

É o que me mata
É o que faz o mundo desabar
Você fica pensando no que pode dar
mas no fim das contas
dá é em nada

E você ficou só
Só com seus pensamentos
lamentos
tormentos
Desencantos
Você ficou.
Mas e se...?

domingo, 13 de abril de 2014

Fitateme

(Já que não pode ser sempre, gostaria que fosse assim. Uma vez por semana. Acho que dá pro gasto.)

Eu estava contando os dias, minutos, segundos. Mas hoje chegou. Fui encontrar aqueles olhos que não me pertencem mas me possuem. Chegou e passou. Você de costas, foi pro outro lado. Daqui a pouco se vira, nossos olhos não se resistem. Fui à procura dos olhares, que me cegam e ao mesmo tempo me fazem enxergar tudo. Mas hoje eles estavam diferentes... Não os entendia como antes. Não os pecebia como antes. Não pareciam os mesmos. Pareciam perdidos. Não sei se era a multidão, mas eles não focavam. Aonde eles foram parar?

Vermelho combina com sua pele. Gostei do modelito. Me conta dos seus planos porque eu quero te encontrar por aí. Quero te encontrar por acaso pela rua e te ter numa conversa informal. Quero, por acaso, me perder nos seus olhos. Como de costume. Quero, por acaso, mergulhar nessas profundezas e explorar o desconhecido. Quero, por acaso, te conhecer. Quero, por acaso, me esquecer.

Eu adoro saber sobre as pessoas, me conte de você. Já que nos encontramos, vamos nos perder um pouco agora. Nos esquecer do lado de fora e se entranhar um dentro do outro. Nos explorar, nus divertir, nos viver, nus sentir.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Ardente

(Novamente aos seus olhos, por encontrá-los durante breves segundos.)

Encontrá-los de novo. Poder encará-los por mais alguns momentos. Nem fazia tanto tempo, mas era tão intenso que eu já andava sentindo falta. Da nossa troca, do nosso penetrar, do nosso entrar um dentro do outro, do nosso ficar e nem piscar. É como prender a respiração. E só soltar quando não aguentar mais, ficarmos o máximo que nos é capaz. Porque temos isso também. A troca é tão intensa que não consegue durar muito tempo. Acho que se durasse, chegaríamos a um outro lugar, meio que de transcendência. Elevação por nossos olhares. Nossos olhos se chamando de novo, se buscando, se encontrando e se piscando. Eu queria poder ir lá, todo encontro, só pra poder encarar seus olhos, só pra podermos nos perder um pouco um no outro. Mesmo que seja por pouco tempo. Mesmo que seja um segundo. Ou mesmo que nem seja.

domingo, 6 de abril de 2014

Pessoa

(Inspirado no meu querido amigo Rubens, que é um só com espírito de todos.)

Eu sou um
mas deveria ser mil
Para me desdobrar em todo canto
estar em todos os lugares ao mesmo tempo

Eu sou um
mas deveria ser um milhão
Para poder te acompanhar
para juntos irmos a qualquer lugar

Eu sou um
e deveria ser um monte
Chegar perto de gente grande
ir além do horizonte

Eu sou um
só um
Mas também sou todos
e faço questão de estar
aí.