quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Tatuagem


Alguém uma vez me disse que o dedo anelar da mão esquerda faz uma conexão com o coração. Me disseram que é a única veia que faz a rota direta, o caminho único, da mão ao coração.


Um dia em Paris a gente foi sair e você desenhou na minha mão. Mais especificamente no meu dedo anelar da mão esquerda. Conectando justamente o teu toque ao meu coração. A tua arte ao meu afeto. A tua sensibilidade à minha subjetividade.


Risco-língua cuir trans. E a gente tatuou os códigos da nossa existência. Tu marcou minha pele pra sempre. De todas as maneiras que isso pode acontecer.


Terroristas de gênero que, com arte e beleza, desviam olhares, confundem as cabeças e existem em resistência e plenitude.


É muito louco porque eu não entendo o que a gente tem, que relação é essa, se existe um nome ou uma forma de definir. Talvez não precise de definição, assim como não precisa de entendimento. O que eu sei é que eu sinto, muito. Sinto tudo. 


Amor tesão paixão encontro acontecimento felicidade alegria euforia risadas conchinhas comidas abraços beijinhos músicas memes festa droga bunda no chão rebolação sorriso verdade coração.


Posso dizer que até agora não vivi nada tão real e verdadeiro como o que a gente vive. E é engraçado porque a gente conversa conversa conversa, habla habla habla e não chega a conclusão nenhuma. Acho que não tem conclusão, definição. Acho que a gente vive o que sente, partilha o que pode, se encontra quando quer. E isso torna tudo mais lindo.


Quando a gente tá junte é porque a gente escolheu estar ali. E, pra mim, isso é a coisa mais bonita que pode existir. Escolher, dentre de todas as opções que existem nesse mundo, a companhia uma da outra.


Eu sinto que tô sempre voltando nesse assunto, mas confesso que não consigo. É tanta coisa aqui dentro que só assim consigo colocar pra fora. É tanto amor que preciso transbordar, se não sinto que vou explodir.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

trem Berlim-Paris

 eu acho curioso como o tempo tem nos tratado

ao mesmo tempo que com muita calma, muita afobação, várias coisas em concomitância

engraçado como me sinto habitando lugares duplos, sentimentos esquizofrênicos de prazer e incômodo, de não entendimento e dúvida, de um amor pleno que de alguma forma me preenche e ao mesmo tempo me confunde

sinto que me tira um certo eixo talvez (?)

e um não entendimento lógico que se faz sentimento

as palavras não dão conta

o amor escrito e falado não dá conta do amor sentido

às vezes sinto que nem mesmo as lágrimas que escorrem dos meus olhos dão conta do que acontece aqui dentro

sinto que podia me perder no teu sorriso enquanto me afogo nas suas palavras e me deleito do teu toque

engraçado que a gente não se toca muito, na verdade quase nada

e se eu me deixasse embalar pela tua voz, será que sonharia contigo?

e se assim fosse, será que a gente se encontrava em outros planos?

existia junto com calma?

não existe pressa em viver mas parece uma pressa de sentir

acho que nunca vivi algo com intensidade tão dúbia

(mais uma vez aquele duplo lugar)

sentir forte e tranquilo

não parar de pensar e dar espaço

querer só e em conjunto

ao mesmo tempo

a vida parece que nos quer pregar uma peça, mostrar algo de uma maneira bem específica

(eu vejo assim, pelo menos)

como as coisas são doidas

eu não acredito em coincidências nem acaso

sinto que as coisas acontecem sim por motivos que muitas vezes são inexplicáveis

e sinto que nosso encontro me ensina sempre uma forma de amar

domingo, 24 de setembro de 2023

de onde eu sou

o mar daqui é o céu é o mar daqui o céu mais belo que se confunde com o horizonte de grandes campos abertos grandes estradas cobertas de sol poeira terra vermelha seca seca seca a chuva inunda alaga e afaga os corações os caminhos se cruzam paralelos perpendiculares circulares setorizados aglomerados de prédios separados pelo verde que colore a cidade branca e cinzenta concreta discreta e discrepantemente distante e quente deserto árido regado por cachoeiras que correm ao seu redor

acordei com sono e lembrei que é muito difícil andar a pé aqui eu adoro andar mas os caminhos não facilitam nem sempre consigo seguir meus desejos e anseios queria uma vitamina de abacate uma bomba do guará e ver o céu da chapada chapade enrolade em braços calorosos no frio da noite desértica que habita esse lugar em busca do lugar de estar me busco pelos cantos angulados de retas paralelas e convexas que se dispersam na multidão outro dia queimei a mão mentira foi a língua mas não rimava então decidi meter a mão e a massa amassou na mesa os pratos talheres e copos vai ter jantar? ou vamo ter que esperar? a comida vai chegar? quem vai comer? você tem fome? de quê? o que você tem vontade de comer? se pudesse escolher estaria do seu lado bem abraçado sentindo teu calor o coração batendo a respiração acontecendo


(escrita automática, oficina de bazuca poética com o Coletivo Transverso, 30/08/2023)

sexta-feira, 21 de julho de 2023

ultra

Oi.

Você tá aí?

Eu só queria te dizer que… tô aqui num lugar muito bonito e eu lembrei de você. E que, de vez em quando, você aparece nos meus pensamentos e eu fico meio assim com aquele sorriso besta, meio sem saber o que fazer, se te mando uma mensagem, se te ligo, se grito teu nome (vai que você escuta).


(Com lágrimas nos olhos) me deu vontade de chorar e eu não sei bem porque. Não sei se eu tô triste, se tenho saudade, se tô feliz. Se é tudo isso junto misturado numa confusão assim ó.


Mas eu queria que você ligasse. Queria ver o teu rosto, olhar pra tua cara. Queria te mostrar o que eu tô vendo e queria te dizer que eu fiz uma trilha muito legal pra chegar aqui. Nada de mais, mas assim, pra quem também não faz trilha há algum tempo, foi legal. Desbravando lugares.


Podia ser uma mensagem também assim sabe só perguntando “oiii, tudo bem? como você tá? lembrei de ti” ou “pensei em você” ou então “só queria saber como é que você tava”


É engraçado porque eu caio nesses dilemas, de ficar nessa tipo “ligo não ligo, será? ah, mas pode estar fazendo alguma coisa, o que que eu vou dizer se ela atender? não sei hahaha”


Essa é a parte que mais me confunde quando eu me apaixono assim desse jeito. Muda alguma coisa que eu não sei dizer o que é, e não sei se alguém sabe. Mas alguma coisa muda, e todo mundo sente. E isso é muito doido.


E aí pronto, a gente fica besta, não sabe o que fazer, não sabe se diz se não diz, se vai se não vai, se faz se não faz, loucura…. E aí pensa. Pensa, pensa, pensa, pensa, pensa. E quer estar junto, sentir o cheiro, o toque da pele assim…


Aiai


Queria dizer que eu te amo e que tenho saudade! E que esse timing foi mesmo uma coisa muito… específica. Que essa vida é muito louca. E que os encontros são a coisa mais preciosa que a gente tem. Os momentos, de apreciação da vida. E eu tenho apreciado a vida. E tenho estado muito feliz. Não só por mim mas também pelas pessoas a minha volta. E você é uma delas. Eu tô muito feliz por você.


Eu quero poder partilhar esses momentos de felicidade, essa sensação boa de estar bem. E estar contigo. Compartilhar os sentimentos loucos, as sensações, as vivências. Tem sido tudo tão doido, tão intenso.


Eu queria tudo isso sabe. Mas ao mesmo tempo… não faço nada. Não digo, não peço, não ligo. Mando uma mensagem qualquer, comento aqui ou ali. E é isso. Ao mesmo tempo fico me perguntando se eu queria mesmo. Como é que é isso? Como é que funciona? Sabe? Tipo… o quanto é minha carência, o quanto sou eu querendo você perto ou querendo estar perto, ou se essas coisas estão conectadas… talvez sim, talvez não, eu não sei.


Mas, independente de qualquer coisa, nada do que eu disse deixa de ser verdade.







(escrito no dia 18/07/23 em Zambujeira do Mar com vista pra praia; pensei em te ligar mas acabei escrevendo um texto)

terça-feira, 27 de junho de 2023

vontades espontâneas de retomar hábitos prazerosos

 eu fui tentar te escrever umas coisas, nem sei bem porque

tava sozinhe em casa meio bêbade e de repente vi a máquina de escrever em cima da mesa (na última arrumação eu fiz questão de deixar ela a mostra, queria ver se retomava essa coisa) e pensei vou escrever algo, e as palavras já foram me vindo mas de repente colocar o papel foi muito complexo, amassou e quando fui escrever reparei que o teclado não é o que estou familiarizado e isso faz com que o processo todo seja bem mais complexo né. imagina a máquina já tem ali a sua dificuldade da pressão nos botões toda aquela coisa de quem tá acostumada com teclado de computador, outra facilidade. privilégios que chama né. enfim, outras coisas. daí o teclado todo diferente, não é QWERTY é AZERTY, daí o M tá em outro lugar, e outras letras também. mas aceitei o desafio e fui tentar escrever mas daí aquela coisa né máquina velha, da feira da ladra, esculachei no WD40 mas tem coisa que nem ele salva. meio emperrada, nem sempre anda nem sempre imprime. ai ai eu sinto falta da máquina do meu avô.

quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Olhos marejados


Eu tenho vivido com olhos marejados

Calejados de enxergar a dor

Cansados da violência e hipocrisia


Eu

Tenho vivido com olhos marejados

Porque a vida me encanta

Com seus detalhes

E momentos

Preciosos


Eu tenho vivido

Com olhos marejados

Porque acredito na potência dos encontros

Me fascina a genialidade das pessoas

A capacidade de serem

Incríveis


Eu tenho vivido com olhos marejados

Porque é difícil mudar

A transformação é plena

Porém árdua


Sou o que fui

E o que vivi

Mas tudo muda

As raízes crescem

Tornando mais forte

A estrutura


Quantas versões de mim existem entre o que sou e o que quero ser?

quinta-feira, 27 de outubro de 2022

ausências

Queria te dar um beijo

Caloroso e com cuidado

Te envolver nos braços

Se acalorar de noite

Com calma


Quero sentir seu corpo

por completo

Beijar cada pedacinho

Te olhar nos olhos

Te acolher com a alma

Com calma


Tenho sentido teu cheiro

quando o vento sopra

Tenho sentido sua falta 

quando esfria

Quando esvazia

Quando anoitece

Nem o peito aquece


Eu (ainda) sinto

Que podia te encarar

O dia inteiro

Guardar teu cheiro

Nas minhas entranhas

Viver

Em conjunto

O prazer

(d)e se descobrir

segunda-feira, 4 de julho de 2022

T

dia 1: a curiosidade matou o gato ou fui eu?


o que justifica nossa curiosidade?

o que se faz pela curiosidade?

será que estou disposto a lidar com as mudanças que a minha curiosidade gera e causa?

se a curiosidade é pela mudança, do que eu tenho medo?

por que mudar dá medo?

será que toda mudança é irreversível?

e a curiosidade, é irreversível?


agora

onde entra o gato nessa história?

morreu pela curiosidade que tinha?

eu que matei o gato?

ou fui eu que morri?


(04/07/2022)

domingo, 6 de março de 2022

transar com o espaço-tempo existente na linha tênue entre dois corpos em três partes, parte três

Eu quero te escrever poemas, cartas e textos para tentar, de alguma maneira, expressar pelas palavras o que meu coração já sente. Tentar descrever o que meu rosto já demonstra quando encontra o seu. Tentar revelar o que acontece aqui dentro do peito, da barriga, da buceta quando os olhares se tocam, os lábios se encontram e as mãos apalpam os corpos.

Eu quero compartilhar minha existência contigo e te levar comigo para onde eu for. Quero trocar comentários idiotas, sorrir desconcertada e rir de besteiras contigo.

Eu quero sentir o seu calor, acariciar sua pele macia, puxar seus cabelos, morder seu pescoço, apertar sua bunda, lamber sua vulva e sentir o prazer do seu êxtase.

Eu queria te escrever palavras bonitas, mas só saíram as apaixonadas.

E talvez nada disso seja suficiente ou eficiente em demonstrar o turbilhão vulcânico que eu sinto por você.

transar com o espaço-tempo existente na linha tênue entre dois corpos em três partes, parte dois

eu
ando
viciada
em você
nos seus
contornos
retornos
adornos
no seu
ser
e estar
serestar
para
na festa
te encontrar
com o
olhar
te dançar
com o ritmo
do coração
o pulso
da emoção
o calor
úmido
do tesão
te penetrar
sentindo
teu corpo
por dentro
o prazer
te dar
de dar
de te dar
e
guardar
comigo
a sua
vibração
e expressão
existencial
do gozo
partilhado
pelo encontro
dos corpos
o toque
das peles
e os fluidos
que se trocam