quarta-feira, 12 de novembro de 2014

A Solidão de Sobremesa

(Duas décadas não é mole, não tá fácil pra ninguém. Muito menos pra mim)

Vim
Eu vim
Te vi
Me vi
Vim te
Vinte

O tempo passa e a gente vai crescendo. Vai crescendo e se aventurando por esse mundão aí que não espera por ninguém e só quer te ver sorrir.

A vida cresce e a gente vai se achando. Vai se achando e se perdendo, ao mesmo tempo tudo junto misturado. Um dia a gente descobre uma coisa e no outro já desaprende outra.

Os anos nos acertam e nos golpeiam sem dó nem piedade. Sem consciência das coisas. O tempo é cruel e inevitável, sem pausa ou bis.

É meio estranho completar outra década. Com consciência das coisas. É engraçado esses sentimentos que a gente tem. Eu sinto que tem vezes que a vida me incomoda. As pessoas, as situações.

Ano passado eu queria que chovesse. Hoje choveu. Um ano depois. E a vida me parece completamente diferente.

domingo, 12 de outubro de 2014

Não é mais Brincadeira de Criança

Eu não quero me sentir assim
desse jeito
Quando desaparece
e sai do conceito
Me explica de alguma forma
porque parece defeito
A sensação é tão boa
mas ingrata
Te arranca a pele
e maltrata
Te sangra a alma
e desidrata
Me persegue
por todos os cantos
Sai correndo e berrando
aos prantos
Dos dias sozinha
já me cansei de tantos
Não coloco mais pontos nos i's
ou mesmo os acentos
De certas banalidades
o mundo fica isento
Chame do que quiser
de acerto ou talento

mas

Me ajuda
não me deixe afogar
Me salva
me tira do mar
Me ache
não me deixe acordar
Me seja
me ensine a amar

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Só se foi, só se é, só se for

(Inspirado em nós, Emma. Em nossa época cinza que se coloriu e se complicou.)

É cinza. O dia a noite a tarde o entardecer e o amanhecer. Os dias meio que se mesclam meio que se embaralham porque no fundo não faz diferença no fundo poderia ser qualquer dia. A cinza cai. Como um cinzeiro que sempre está lá para aquilo carregar cinzas assim viram os momentos todos cinzas que passam caem e voam com o vento. É frio. Faz calor mas sinto frio mas por dentro é tudo frio quem disse que sinto calor? Mentira. Ah o cinza a cinza acinzentar isentar e inventar. Era tão mais fácil. Era só mas era mais fácil. As cores são tão difíceis pensar sobre elas combiná-las visti-las ser-las. O mundo colorido trás a esperança que não tenho trás o calor que eu não gosto trás o amor que me desafia e trás a dor que me persegue. O cinza não doía. Por que as cores doem tanto? Eu amo as cores. O colorido a vivacidade a paleta a diferença a individualidade a peculiaridade o cada um sendo um e ninguém mais. O cinza é tão tentador tão chamativo tão sedutor tão meu tão seu tão nosso. Era nosso. Agora somos das cores dos amores das dores da chama que arde bem aqui dentro bem lá no fundo que não consigo evitar mas que dói ao mesmo tempo que queima e é forte e destrói e constrói e vive. Por que sentir é tão complicado? Por que é tão difícil? Eu queria umas explicações que não existem só pra tentar entender mas não se entende simplesmente se sabe ou não se sente ou não se vive ou não. Se morre? Só de paixão.

domingo, 21 de setembro de 2014

Dolores

(Pra você, meu querido Kiko minha querida Kika. Eu disse que ainda te escreveria um texto, e que data mais propícia do que esta? Parabéns.)

Eu conheci uma senhora
que não era das dores
mas sim dos amores
vivia de penhores

Uma graça
simples e simpática
humilde
distante

Perguntei seu nome
ela hesitou
disse para eu não me preocupar
eu iria entender

Fiquei abismada
nada sabia
e comecei a reparar
em sua maestria

Como lidava com a vida
com as pessoas
com as dores
e os amores

E logo percebi
que não havia outro jeito
o seu nome simplesmente se revelou

Prazer, Dolores.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

421

a               d               d               d               d               a               u
p               o               a               a               a               o              m
e                                 s
s               s                                  b              m               b              d
a              e                d                e              e                 e               i
r               r                o                l               i                 b               a
                                   r                l               a                e
d                                e                e               -                r                a
o                                s                                 n                                                          continuar
                                                   é                o                e               v
p                               e                p                i                                  i
r                                                 o                 t                f                d
a                               a                q                e                u               a
z                              m                u                                 m
e                               o                e                a                a                t
r                               r                                   o                r                e
                                 e                                                                     m
                                 s                                  l
                                                                    u                                 q
                                                                    a                                 u
                                                                    r                                  e

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Senti(n)do

O colo ficou frio.
O olhar ficou perdido.
As palavras, sem senti(n)do.

Você se levantou e eu mal sabia que seria para não se deitar mais. Você se levantou e o mundo a minha volta se esfriou. O vento gelado penetrou minha pele e congelou minha espinha, meus órgãos, meu coração (parou). Você se levantou e meu olhar te acompanhou. Até que você saiu de vista, meu olhar já não sabia mais aonde ir, não sabia o que olhar. Não sabe mais. Ele procura um rosto na multidão e não encontra. Tenta ver os lados, os ângulos, os graus. Nada. Nada enxerga. No meio disso tudo, você me dizia algo. Mas o seu afastar fez com que eu parasse de escutar. Parasse de entender. Você dizia o quê? Eu o quê? Como é? Não sei. Não faziam mais sentido as palavras. Até que elas simplesmente pararam. Para não voltar mais, também. Não se faz mais questão. Não é mais essa a expressão. Não se tem mais... simplesmente não. Do nada. E simplesmente parou. Simplesmente estancou e ficou. Como o sangue que sai, corre e escorre e uma hora seca. Uma hora ele também para. O medo que me invadiu, me possuiu, agora mudou de nome. Ele é muito mais difícil de resistir, muito mais difícil de me fazer sorrir. Não tente compreender, não foi com você. Mas sim, foi você. O medo virou raiva e dessa partiu para melhor. Me deixou aqui nessa, para aguentar tudo. Sim, me dói. Sim, me distraio. Sim, eu tenho conseguido. Sim, eu tenho saído. Sim, tenho me divertido. Mas nossa, acho que não precisava ser assim né?!... Bom, quem sou eu para dizer alguma coisa. Na verdade eu deveria dizer muitas coisas, mas acho que você também não vai escutar e achar que é implicância minha. Nada posso fazer. Vou aceitando. Superando. Ou melhor, acostumando.

O inverno chegou.
Eu fecho a porta e vou para debaixo das cobertas.
O frio agora é interno.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Perfume

Eu esqueci do amor, do muito amor.
Eu esqueci da dor, da dor que me causou.
Eu esqueci do frio, do frio que me deixou.
Eu esqueci dos olhos, dos sorrisos, do
carisma, da flor, da cor, da causa, do efeito,
do temor, do chão, das formas, dos
abraços, do cheiro... Não. Do cheiro
não. O cheiro me persegue
como um campo infinito de rosas, em que
não importa o quanto se corra, o cheiro
sempre está lá.
É o cheiro que me busca, me enlaça, me
joga no chão e monta em cima de mim.
Ele vem como uma tempestade e, sem pedir
licença, me invade e se deixa entranhar e
estancar no meu sangue.
Como uma praga. Como aquela pessoa
que não foi convidada mas aparece. Como
alguém que mal se conhece mas não se
esquece. Como você, que aqui
permanece. Mas anoitece.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Noite de Reunião

(Numa noite de amor. Numa noite sobre o amor, ah... esses olhos.)

Já tinha tempo, que a saudade já não batia mais. A falta já nem me perturbava. Mas nessa noite o amor foi maior. Nessa noite, um presente. Ah... esses olhos. A gente se perdendo e se procurando e se achando e se olhando e se consumindo sem se tocar. É difícil segurar a vontade de te procurar na multidão. É difícil deixar de olhar.

A conversa nem dura muito, parece que falta um pedaço. Falta. Mas é pra ter de novo. Pra gente ter que se encontrar de novo pra terminar de falar. A gente se encontrar de novo pra terminar de se contar. Se encontrar de novo pra terminar de se olhar. Terminar de se entrar.

Lembra? Lembra do entrar um dentro do outro? Lembra do se perder? Lembra dos poucos segundos que pareciam eternidade? Lembra?

Ah... esses olhos.

Vê-los novamente trouxe a saudade de volta. Trouxe toda aquela ansiedade. Trouxe todo o desejo. E eu aqui pensando que não os veria novamente. Eu aqui pensando que os olhares estavam perdidos. Às vezes é tão bom estar enganada. Tão bom estar atordoada. Tão bom estar, ah... esses olhos.

sábado, 26 de julho de 2014

Tropeço

(Paulo, por todos os motivos. E por apenas um.)
(Há uma música que acompanha esse texto, e aqui está ela: https://www.youtube.com/watch?v=DGh0FLLqy48)

Eu queria que te vissem como eu
como eu te vejo
como eu te vejo e te desejo
te desejo o amor
todo amor dessa vida

Pra gente sair daqui
sair daqui e ser feliz
ser feliz e viver
ser feliz e esquecer
ser feliz e se morrer
foi

Vamos
porque só a gente se entende
só a gente se aguenta
só a gente se sustenta
de pão, pirraça ou saco cheio

O dia passa e a gente nem percebe
a noite chega e não faz diferença
o tempo acompanha mas a gente só cresce
junto separado contigo comigo ou só

e se só não é a maior menor palavra, não sei qual é

Por todo amor que houver nessa vida
Por todo o horror que nos cerca e não nos espanta
Por toda a dor que houver de passar
Por todo dia que houver de sonhar

Por mais que tudo isso
pelo dia
o bendito dia
em que nesse grande mundo
e nessa vastidão de pessoas
eu te encontrei.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Porque não importam os seis meses de inverno

(Rubens, Paulo e Ian. Porque eu nem preciso explicar porquê.)

Porque ao seu lado não dói
ao seu lado é como se nada tivesse acontecido
é como se eu fosse esse momento e nada de ruim passa por minha cabeça

Porque ao seu lado a vida acontece
não me sinto estancada numa ferida aberta
não me sinto parada no tempo ou num ponto fixo no espaço

Porque ao seu lado o mundo gira
ganha cor, cheiro, flor e sabor
como os seis meses de escuridão total que voltam a ver o sol

Ao seu lado
Aos seus lados
Aos lados
Seus

Como se fôssemos um
Como se fôssemos cada um
uma qualidade de um grande todo

[Eu tenho medo.
Não quero estragar o que há entre a gente.
Tenho medo.
É difícil trocar algo certo por algo indeciso.
Medo.
Você não sabe... não entende.
Eu.]

Porque ao lado de vocês...
se bem que nem precisa ser ao lado literalmente
mesmo de longe a gente não se espanta

Porque a gente nem precisa de porquê
a gente simplesmente sabe
e é.