domingo, 5 de agosto de 2012

Cólera - Parte IV ou A Mulher de Vermelho

Logo que cheguei na estação de trem vi um homem. O homem lia um livro, mas assim que passei ele parou. Parou e começou a me observar. Me olhava com olhar admirado, atônito, como se nunca tivesse visto uma mulher na vida. Queria saber o que se passava em sua cabeça naquele momento, mal sabia eu que iria descobrir.
Ele me olhava deslumbrado. Que olhar apaixonante...

Estava me sentindo meio mal. Algo que comi? Nem tomei café direito... Deve ser o bebê. 3 meses ainda, nem dá pra ver a barriga.
Minha primeira consulta médica. Espero que esteja tudo bem. Apesar de tudo, ainda era meu filho ou filha. Apesar de tudo...

Queria esquecer daquela noite. Por que as coisas não poderiam ter corrido como normalmente? Por que eu tinha que virar na esquina errada?...

Nove da noite, quando saio do trabalho. Tudo escuro. Sempre volto para casa a pé. Mas dessa vez fiz uma curva errada. Estava distraída pensando na minha promoção. E foi a curva que definiu minha vida. Quando percebi ele olhava pra mim e eu sabia que não teria volta. Ainda assim tentei correr. Inútil.
Cheguei em casa toda suja, tremendo e com a roupa meio rasgada. Tem certas horas que é bom morar sozinha, essa não era uma delas. Tudo o que eu queria era um colo pra deitar e poder chorar. Chorei sozinha. No banho, na cama, na manhã seguinte até o trabalho. Fizeram perguntas, mas eu não sou uma pessoa muito aberta, depois de um tempo me deixaram em paz quando não as respondi.

Chegando ao médico eu lhe expliquei a situação. Fiz os exames mas teria de voltar outro dia para buscá-los. Será que veria o homem da estação novamente?

Eu voltei ao médico. Meses se passaram e eu não vi mais o homem da estação. Até que numa de minhas últimas consultas, já com 8 meses e uma grande barriga, eu o vi novamente na estação.

Da mesma maneira como da primeira vez. Ele lendo um romance e eu de vestido vermelho. Exceto que tudo havia mudado. Eu estava prestes a ter um bebê e ele... bom, logo chegou uma mulher e o beijou nos lábios. Dizia ele que a estava esperando por algum tempo já. Dizia ela que se atrasou se arrumando. Eles iam se casar. Estavam indo para o cartório. Ele nem sequer me viu...

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