sexta-feira, 30 de outubro de 2020

por que coração doído escreve bonito?

expulso

impulso

refluxo

presente

consciente

ausente

reflexão

inversão

invasão

repenso

divisão

contramão

desvio

solidão


pra estar junto

precisa ser igual?

pra crescer

precisa doer?

e quando acontecer

eu posso chorar?


fazer correr

os rios

e

transbordar

as cachoeiras

de dentro

de mim

sentir faltar

o ar

e

soluçar

acolher

(minh)a vulnerabilidade

de ser

inteira


sentir

o aperto

no peito

que esmaga

o coração

mas sentir

não é em vão

o que

(mais) dói

é

não se apaixonar

pelas simplicidades

da vida

não se encantar

pelas filosofias

existenciais

não se rir

das piadas

banais


eu queria te falar tantas coisas

mas elas não cabem em palavras

eu queria que pudesse se ver

com meus olhos

e olhar pra si

com meu coração

com(paixão)

eu queria que soubesse

que mesmo sem resposta

a caixa torácica

pulsa

e

grita

sem medo

de falhar

buscando

aprimorar

o

impulso

refluxo

presente

consciente

que

invade

a contramão

desvia

a solidão

repensa

reflete

e

expulsa

a divisão

quarta-feira, 18 de março de 2020

Manifesto da Identidade


(29/02/2020 - o dia que nem sempre existe)

gota
água
pingo
pingo
pingo
pingo
pingo
chuva
vento
corre
córrego
mutante
caracol
potência
dialógica
flui
flui
flui
desses
flui
dezes
no interior
amplo
na viela
silêncio
no sossego
essência
h(á)mar
no estar
existe
no éter
suficiência
o encontro
é ancestral
re-inventa
re-liga
re-conecta
os espaços
destrava
potencialmente
as identidades
des
cobre
que
há mais
no mar
do que
só água
consciência
encruzilhada
achada
no nosso
olhar
os sapatos
são os nossos
e
sabemos
onde
aperta
espreme
torce
estende
estica
e deixa
secar
soprar
suspirar
lentamente
de dentro
o que cabe
na potência
de
se
colorir
as
possibilidades
o
existir
não será
mero
desfrutar
é sobre
também pertencer
e
sentir
profundidade
completude
possibilidade
realização
plena
iiiiiiin
nomeável
interminável
incontentação
em
contexto
contesto
lugar
na
experiência
escrevivência
escrepotência
de todas
as coisas
que
cabem
na
boca

terça-feira, 12 de novembro de 2019

dia 95

Pois, como se nota, não conseguir manter meu diário. 3 meses se passaram e o calor foi embora. Agora realmente já está frio. Um frio congelante que parece entranhar em cada fresta livre de carne a mostra. No Porto a chuva chegou com força, os dias tem sido cinzentos e escuros. Pelo sul o que ataca mesmo é o vento. Ainda não consigo dizer bem o que é pior. Acho que o frio é o pior. E olha que no Brasil eu era a primeira a dizer que amava frio. Ainda gosto, mas depois de passar frios mais frios que os frios que eu conhecia comecei a perceber que, assim como o calor, o frio é relativo e que o que dói mesmo é não ver o sol. Não ver o céu azul e as nuvens a passar. O cinza deprime um bocado, não dá vontade de fazer nada além de ficar deitada no quentinho assistindo um filme ou uma série. Hoje faço anos, é como dizem cá. Um quarto de século que se passa. Um quarto de século de experiências. Um quarto. É de onde escrevo nesse momento. Um quarto, com duas camas, uma mesa de cabeceira, um aquecedor. Nunca tive um aquecedor. Nunca passei meu aniversário no frio, muito louco isso. A gente muda de lugar e as perspectivas mudam. Tudo muda. Até a gente muda. E como muda. Mas tenho sido muito feliz com minhas escolhas, caso queiram saber. Tenho sido contemplada por todas elas, apesar dos diversos momentos de questionamentos "será que eu deveria ter feito isso? será que eu não estaria melhor assim ou assado? será que é isso mesmo que eu deveria estar fazendo nesse momento?". Porém cada vez mais tenho percebido que eu deveria estar onde eu quero estar, e por mais que eu queira estar em dois lugares ao mesmo tempo ainda não inventaram maneira de se fazer isso. Também tenho percebido que a vontade e o desejo apenas nos impulsionam a movimentar o que quer que precisamos movimentar, não necessariamente elas ditam as regras. Afinal, não sabemos quem dita as regras. Essa entidade ditadora tem muitos nomes e muitas interpretações. Eu a chamo de universo. E tento manter um diálogo harmonioso com ele, tento me colocar como ser-força-energia pensante e atuante enquanto tento ouvir seus conselhos e mensagens subjetivas e metafóricas. E é justamente nesse tentar perceber e interpretar seus conselhos que me encontro agora, no meu dia de anos, em uma residência artística, com pessoas que não tenho nenhuma intimidade. Ouvi dizer uma vez que nosso dia de ano é um reflexo de como será o nosso ano que se inicia, e até agora tem se realizado dessa maneira pra mim. Veremos o que esse quarto de século completos trará em sua bagagem. Enquanto isso, trabalho.

sexta-feira, 9 de agosto de 2019

dia 2

Hoje amanheceu quente. Engraçado como no verão, mesmo nublado, parece que fica um abafamento na rua. Ontem saí para passear por aqui e impressionantemente reparei que vários estabelecimentos fecham nesse período de agosto/setembro para férias. Ou seja, nem as pessoas do Porto ficam no Porto no verão. Aparentemente é uma coisa por aqui. No inverno acontece parecido, tem estabelecimentos que também fecham por um mês ou mais, porém acho que é por conta do frio mesmo.
Esses dias tenho sentido mais saudades que o normal. Não sei o que é exatamente, mas desde ontem tenho vontade de chorar quando penso em casa. E quando digo casa aqui não é necessariamente a minha casa, com as minhas coisas, a casa que vivia antes de vir pra cá. Casa aqui para mim é onde me sinto plena de uma maneira inexplicável, me sinto completamente segura de mim e do chão que estou pisando. Acho que essa casa pode vir a mudar de endereço, de cidade, de país. Mas, por enquanto, essa casa é Brasília. A cidade utópica no meio do cerrado no meio do território do Brasil no meio do continente no meio de uma placa tectônica. Meu país tropical, quente, tão imenso, tão diverso, tão rico, tão plural e tão incrível. Com uma história muito triste e dolorosa, assim como a de outros países que também sofreram com a colonização europeia, mas com muita resistência, muita cultura e muita transformação. Um país que tem vivido tempos sombrios e extremos. Me dói. Me dói no fundo do peito estar longe ao mesmo tempo que sinto um alívio imenso em poder olhar essa situação de fora. Tenho medo de como estaria se a estivesse vivendo de dentro. Tenho medo do que mais pode acontecer. Tenho medo de ficar. Tenho medo de ir. Tenho medo do dia de amanhã. Tenho medo.
Mas uma vez ouvi: "vai, e se der medo, vai com medo mesmo".

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

dia 1

Há meses não escrevo. Sinto muita falta dessa coisa de colocar pra fora elocubrações e pensamentos. Mas algo me acontece e eu não paro mais pra encarar a página branca que espera ser preenchida por ideias. 
Acordei hoje com esse desejo de preencher uma página em branco. Então pensei que poderia fazer algo como um diário, contando sobre acontecimentos, desejos e sensações vividas e vistas no dia a dia, e pensei que ele poderia trazer poesia para os dias frios e úmidos do Porto. Mas logo depois percebi que está em pleno verão por aqui e que a ironia de estar vivendo um verão tão frio, nublado e chuvoso era poesia pura para os olhos de quem busca admirar a beleza do cotidiano.
Sinto falta da minha máquina de escrever. Existe algo no fazer escrito que me preenche quando estou de frente a uma máquina de escrever. Sinto que sou tomada por uma súbita inspiração e que as palavras simplesmente escapam dos meus dedos e são carimbadas no papel. Sinto um poder tão grande em estar diante de tal máquina que não existe certo ou errado, existe o fluxo de pensamento que toma conta de mim e quando vejo, lá está a página preenchida por pensamentos meus que eu nem sequer sabia que estavam perambulando minha mente.
Agora preciso ir. O vento sopra, as janelas batem e os sinos tocam me avisando que já são 13:30 e eu ainda não saí da cama.

quarta-feira, 3 de abril de 2019

Do hábito ao fato


Pensei várias vezes em ti hoje, agora de noite. Te imaginei entrando pela porta, fazendo meu coração bater mais forte. Pensei no seu olhar encontrando com o meu. Teve até um momento que te vi saindo do bar, com aquele casaco bege, pra barrar o vento. Acho que é saudade. Misturada com carinho, e desejo de tá perto.

Fiquei mal acostumada com a sua presença embaixo do cobertor. Um simples esticar de braço e já encontrava seu corpo como obstáculo.
Caminho.
Passagem.
Paisagem carnal.
Quente.
Presente.

O sono fica inquieto e eu me pergunto a real necessidade que temos de criar esse tipo de dependência da outra pessoa. Não sei se chega a ser uma dependência mas talvez um costume. Ou um conforto.

Decerto eu não esperava me acostumar tão fácil assim.

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Quando dói mas não é de dor

(À minha coração.)

As lágrimas
Escorrem no meu rosto
Lavam minha alma
E você me diz que tudo bem
"Pode chorar, minha linda"
Mas as lágrimas
Não são de sofrimento
Não se chora só de dor
Elas são um lamento
Um canto silencioso
Que não se contém em mim
E dá um jeito de sair
Pra poder, então,
Gritar
Pelo seu olhar
Pelo seu toque
Pelo seu cheiro
Pela sua suave respiração
Que se encontra com a minha
No calor entre nossos abraços
No amor entre nossos beijos

E pensar
Que tinha dias
Que nem eu
Acreditava
Na força
Desse encontro
Arranjado pelo universo

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

hiato

Pensei em te pedir pra voltar
Pensei em te pedir pra ficar
Pensei em te pedir pra me levar
Contigo
Pra onde nossos corações pedissem
Pra onde o vento soprasse
Pra onde o horizonte deixasse de ser margem
Até acabar a gasolina
Para então
Descobrir
Ao teu lado
O canto da terra
A esquina de tudo
A aresta do mundo
E viver
No instante do agora
A realização positiva
Da nossa potência

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

devaneio amoroso-poético-trágico-mágico

Eu queria te escrever todos os poemas de amor que cabem em mim
Para eternizar os nossos dias nas letras que mancham o papel
Cada dia a mais é também um dia a menos um dia a mais
A gente caminha para um momento certo de um destino tempestuoso e inconcreto
Os encontros são realmente maravilhosos, não é?



sexta-feira, 29 de junho de 2018

projeção

e se acabasse agora? e se de uma hora pra outra você descobrisse que nada daquilo é mais? e, de repente, é como se um trovão caísse exatamente do meu lado enquanto eu caminho ao seu encontro. de repente me lembro de todos os momentos que olhei profundamente nos seus olhos e percebi que era aquele o lugar em que eu queria estar naquele momento. eu quero te ver e poder te olhar profundamente. e dizer, pros seus olhos, o quanto acho bonito ver eles tocando a minha pele, intensamente. como o calor que me queima facilmente, trabalhando a melanina que corre em minhas veias. o pulso. o batimento. vai. ficando. cada. vez mais acelerado quando encontra o seuolharemtodoocaosqueéveromundo. pausa. respira. toma uma água. acho que água é essencial. sou dessas mesmo. saio por aí disseminando e oferecendo. e pode me oferecer também, água é coisa que não se recusa. tipo cigarro. a menos que seja o último. porque não dá pra abrir mão daquele momento único em que você acende o seu último cigarro. a fumaça sai da boca como se fosse uma estrela que você sopra na imensidão. o vento se espalha e toca seu rosto suave e brando. branco. os lábios rosados se encontram num encaixe perfeito. e quando a língua se acomoda por ali, entre um beijo e outro, é uma imagem que ficou na minha cabeça feito tatuagem. feito cicatriz que marca a pele e deixa história pra contar. e dessa história vão ouvir falar. do encontro que aconteceu. e que ninguém percebeu. mas espere, são só alguns segundos de propaganda...