domingo, 25 de outubro de 2015

Café da Manhã

E
de repente
assim foi

E
de repente
virou história

E
devagar
a gente foi se esquecendo

E
dilatar
fui esperando

E
sem pesar
passou

E
sem parar
o tempo continuou

E
sem contar
os dias passaram

E
ao contrário
não te esqueci

E
por outro lado
nem era pra ser

E
enfim
te conto como se fosse mais uma daquelas histórias de café da manhã

domingo, 18 de outubro de 2015

A vida é feita pra quem segue.

Eu começava a ponderar o que eu queria entender. Me perguntava mas não encontrava o sentido ou mesmo o aviso de como proceder. Procurava o inverso, o manifesto, o processo da seriedade que leva ao riso. Observava e compunha a melodia do nosso encontro, direto ao ponto, diferente do cuidado que repousa no teu canto. Tentava me aproximar e remexia ao tocar, cuidando pra não reparar e esperando pra sonhar. Sentava, mas logo queria levantar. Desviava, mas logo queria voltar a olhar.

Vou ser bem honesta, eu nem te reparava direito até o dia em que comecei a me importar e comecei a querer entender, de curiosidade, o que se passava com você. E foi nessa curiosidade, curtida e em diferença de idade, que eu me peguei sonhando com você. Acordei meio atordoada, meio corada, meio desacreditada que era isso mesmo o que acontecia e se revelava pra mim. E foi assim, que eu comecei com o pensamento que contradizia o meu gesto mas que queria me colocar na sua frente e te perguntar da gente. Queria que dessa vez fosse diferente, que de um jeito meio louco isso fosse pra frente. Queria te dizer contente, com um sorriso no rosto, que você me faz falta. Que tua presença me exalta e que teu olhar pra mim me deixa de um jeito, que eu não sei explicar direito, mas que faz eu querer me perder ali. Agora, pra sair daqui, não quero ter que te pedir mas queria que você soubesse disso tudo e que me dissesse que é absurdo, mas que você aceita. Aproveita.

Eu sei que você foi embora mas ainda espero te ver agora. Só pra ver mesmo. Só pra ficar de longe. Pra tentar entender o que se passa na minha cabeça. Tentar entender essa sensação louca que me vem querendo olhar pra você.

Mas acabou. A sensação não cessou, mas o desejo se esvaiu. Se consumiu em mim. Eu fiquei sentada escutando suas desculpas, e não te culpo mas também não significa que eu queria que fosse assim. Eu esperava poder te dizer o propósito desse texto, o propósito de estar pensando assim.

O dia acabou, enfim.

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Fazer Chover, as palavras

(Ao meu amigo, querido, que transforma minhas palavras nas mais lindas músicas. Sempre sou eu quem devo te agradecer, Thiago.)

tentei te escrever um poema
e só saiu inspiração
que depois virou canção
e
quando percebi
tinha perdido a atenção
do que
no fundo
eu queria escrever

seria de coração
e de poema
chamaria as palavras
e as rimas
que faria

eu só queria encantar o seu dia
e te dizer
na calmaria
que a vida passa perto
e se você não corre junto
ela te atropela

queria dizer
que a vida também é bela
como as curvas do seu cabelo
e seu dedilhar no violão
que
com a mais bela perfeição
me escreve uma canção

queria dizer
que eu só tenho a te oferecer
meras palavras
e que você as colore
da mais bela maneira
faz chover delas
as mais lindas melodias

então me encontre
no fim do dia
e me diga
a quem seria
dedicada
essa emoção
que se encontra junto
do poema
que originou
nossa canção

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Miluna

(Esse é pra minha amiga amiga da lua. Ao fenômeno dessa noite, que além de encobrir coloriu a lua de vermelho. Isabella, vamos juntas dançar essa transformação?)

De amor dói o coração
e de novo toca nossa canção

Na noite
ela lá, fria
completa

Se perdendo aos poucos para a sombra
sendo engolida pela escuridão

Espetáculo

E da luz mais intensa
breu

Desse escuro mais denso
e espesso
sangue

De pouco em pouco
se esvai
e se transforma

Por amor faço um pedido
e por ele mesmo
peço compreensão

Energia que emana
na longa
consagração

Vem cá
dança comigo essa transformação

Vamos
ao som da emoção

E não importa a distração
meu olhar é seu
e com razão
afinal
são ciclos
que começam e se fecham

E agora quase lá
espero te ver completa
complexa
convexa
imensidão

Me conta mais uma vez
como fica esse coração
e me explica
se eu devo ou não

Com toda essa explosão
expansão
tem gente que perde o momento de contemplação
fica olhando pela contramão

E por fim
se esconde assim
sem mais nem menos

Vem me dizer
e conta como foi
o prazer de se esconder
por detrás
da imensidão

Lá está ela
vermelha pela janela
me encarando
de coração
e me olhando
por dentro da alma
sem dar explicação
sem me contar a intenção
ou a direção
que vai me arrastar
mas me deixo levar

Eu queria conversar
sozinha contigo
pedir abrigo
e solidão
buscar ao seu lado
a companhia
que me completa
o coração

E lá do fundo
com toda contemplação
toda disposição
e sinceridade
agradeço
e me despeço
buscando
então
renovação

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Outro dia eu estava sonhando acordada

Eu só quero te esquecer!
Você mexe comigo e eu não consigo fazer nada
Eu não te tiro da cabeça
Ou melhor, você não sai de lá
Parece provocação, parece que é de propósito
Parece que é só pra me tirar do sério
Só pra eu te desejar
Só pra você ter aquele gosto de saber que tem alguém pensando em você
Parece de propósito
Eu tenho essa ânsia e você me aparece no campo de visão
Você vem me perseguir sem nem saber que o faz
Talvez não seja algo romântico (eu bem acho que não é)
Mas é sim um desejo
Daqueles desejos carnais
Daqueles desejos de te possuir e de me deixar ser possuída
Aquele desejo de me deixar ser possuída pelo desejo
Ser possuída pela sensação
Possuída pelo toque
Os corpos nus se tocando
E a gente se pirando e se descobrindo e se reinventando
E se tendo naquela intimidade
Intimidade essa só nossa

É isso que não me sai da cabeça
E você está mais do que incluído nessa fantasia
Fantasia essa que só existe por sua causa

Então, a verdade é que eu não quero te esquecer
Não quero abandonar essa fantasia
Não quero abandonar o desejo
Quero apenas
Consuma-lo

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Aisthesis

A sensação
que vem e toca
Distorce
Amorfa
Emoção
Ilusão
Paixão
É compreensão
e ao mesmo tempo
percepção
É corpo,
movimento
e ação

Inconstante tempo
Penetrante
Que vibra
Pulsa
e deforma
Dilata
Adapta
Retorce
Encolhe e estica
e se multiplica
Se faz perdida
Invadida
e cai

domingo, 20 de setembro de 2015

Entre

(Inspirado e dedicado àquele grupo lindo, que sempre nos convida a adentrar seu apartamento. Obrigada Grupo Tripé por, mais uma vez, me deixar entrar no seu quarto.)

Vem cá
me conta uma coisa
me diz se é isso mesmo que você sente
ou se vamos ficar cada um na sua
sendo gente

Vem cá
e me fala no pé do ouvido
que me quer
de lado ou mesmo
mal passado

Vem cá
me dar um jeito
e contar pra mim direito
que não basta ser amigo
tem que dormir todo mundo junto
amontoado

Vem cá
me ameaça de paixão
e vê se não me enche
vira cada um pro seu lado
pra se enxergar se olhando de costas

Vem cá
mas vem mesmo
porque pra te amar
eu preciso te mostrar
já que não sei falar

Vem cá
entra junto
vem morar aqui
vem se perder um pouco
e desistir do mundo lá fora

Vem cá
pra gente se entrar
pra gente se encontrar
pra gente se largar
pra gente se contar
depois

domingo, 6 de setembro de 2015

Eu não faço questão ao mesmo tempo que faço e não.

Como explicar
ou ao menos
Como começar a perguntar
a entender
Como se dá o processo
ou mesmo
O inverso

a dualidade
Que se enxerga
na diferença
O sorriso
e a seriedade

Lá de longe
observo
Inquieto
disperso
Convexo

o pretexto
Era o mesmo
mas não se concretizava
No espaço
entre a gente
Penetrante
cortante
Afiado

mas afinado mesmo
Foi sua nota
tocada

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Ao São

(Ao concerto do Madrigal de Brasília, que pude novamente assistir e me apaixonar.)

III.
Movimento inquietante
olhar distante
encontro permanente
mas que só
acontece
de longe

Movimento involuntário
que
ao contrário
do que se pensa
só bate de frente
quando indevido

IV.
No dado instante pertinente e relevante na tarde de sol quente se estende na minha frente e distante de repente, corre.

O encontro se faz conjunto quando passo a te entender, quando passo a dizer o que espero receber e me contenho para não pular em seus braços e seus cantos que de canto me encantam.

V.
O som que me arrepia
distrai
e se esvai no espaço
mas fica aqui dentro
guardado no peito
quente
contente
desponta
sorridente
atrás do teu sorriso
que chega sorrateiro
pelo canto dos lábios
mas que se denuncia
nos olhos
e no vermelho
do teu rosto

E eu me encanto
de um jeito
sem jeito
com esse seu jeito
e todo seu trejeito
apesar do seu conceito
ser meio
sem jeito
com todo
preceito
que se pode
ter

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

A Poética do Solilóquio

(Pela perda.)

Nada
Vazio
Encarando a imensidão
Ninguém sabe a dor da perda do outro
Ninguém conhece o sofrimento pleno

Imóvel
Estático
Paralisado perante o céu azul
Que pode ser escuro ou claro
Que pode ficar cinza também
Coberto de nuvens

Até cair água

A melhor água
Aquela que lava
Aquela poética
Que despenca e nos encharca
Sem pedir licença e sem se desculpar

O calado
A calada
Eu

Chega um momento que é só desolação
Chega uma hora que nem a emoção
dá conta

A gente pede baixa
Acerta a diferença
Desconta o tempo aproveitado
E paga o que restou

Mas de resto
Nem o processo
Nem o inverso
Vai dizer se foi bom
Ou ao menos
se valeu a pena