domingo, 8 de março de 2015

Soneto Desafinado

Bateu a cabeça na parede
Acordou expressionista
Se julgou equilibrista
Por balancear a vida no ar

O sol lhe raiou quadrado
A comida desceu a seco
O dia ficou vermelho
Anoitecendo quente, preto, verde

Ela se perguntou se a vida é só isso
Se ao invés disso
Não se pode ter sorriso

Queria se perder
No abismo
De ser dois

quinta-feira, 5 de março de 2015

Ouvi dizer que escrever sobre as vontades ajuda

Eu queria escrever. Eu queria escrever palavras bonitas. Eu queria escrever poemas e histórias incríveis que deixariam as pessoas boquiabertas. Eu queria escrever e encantar os leitores com minha destreza com as palavras. Eu queria escrever e descrever os detalhes sobre um dia ou uma vida ou um ano. Eu queria escrever sobre aquele dia. Eu queria escrever e recordar e guardar as memórias nas minhas palavras. Eu queria escrever e queria te dizer para me encontrar naquele lugar. Eu queria escrever e queria te ver pra gente se dizer o que nem escrito pode ser. Eu queria escrever e me acabar de chorar. Eu queria escrever e emocionar as pessoas. Eu queria escrever e fazer as pessoas morrerem de rir ou de chorar. Eu queria escrever e provavelmente queria que as pessoas chorassem. Eu queria escrever e fazer as pessoas entenderem a minha dor. Eu queria escrever e queria mostrar e escancarar as minhas entranhas para que os outros me vissem. Eu queria escrever contos mirabolantes e viagens épicas ao fim do mundo. Eu queria escrever do amor mais verdadeiro e da paixão mais fulminante. Eu queria escrever da morte mais morrida e da vida mais vivida. Eu queria escrever sobre o mendigo que outro dia me pediu esmola no sinal. Eu queria escrever sobre seres fantásticos e seus mundos. Eu queria escrever sobre pessoas. Eu queria escrever e marcar as pessoas. Eu queria escrever e queria que minhas frases ecoassem pelo tempo. Eu queria escrever para poder deixar minha marca na história. Eu queria escrever para lembrar e para lembrarem de mim. Eu queria escrever por medo de esquecer. Eu queria escrever para não me esquecerem e não me deixarem de lado. Eu queria escrever para que me vissem sem me ver. Eu queria apenas escrever.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Ao Som dos Bandolins

De choro me desfiz e te refiz. No palco, a atriz se diz meretriz, mas só condiz dizer que o que se sabe é pouco. E o toco, reforço, lá fora, te espera pra sentar e se acalmar, acalentar e se deixar pelo luar. Mas não tem lua, lá fora chove e a água leva embora as impurezas, as indefesas, as destrezas e nos convida a aproveitar. A dançar nessa água sagrada que nos banha do céu, nos cobre de algo parecido com mel. Só me diz se é real ou se é melhor deixar de lado, o que era o contrário do inverso do avesso do desigual que se julga anormal pelo jeito ideal de se dançar assim, ao som dos bandolins. Mas se ela apertasse desse jeito, ao som dos bandolins, me diz se seria direito que se cantasse e se rodasse como criança menina de saia na rua, de noite insegura, com jeito se apura e de longe se culpa e desculpa se soei mal. É que a madrugada me pegou de jeito e se desenvolveu ao som dos bandolins e me fez assim, como uma criança dançando a noite e valsando até o fim, pra se dizer feliz afim de me julgar amada ao som dos bandolins.

(16/12/2014)

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Indigestão

Do vício
Ao verso
Do reverso
Ao inverso
Do avesso
Ao contrário
Do acesso
Ao literário

Do disposto temporário que fosse junto, honorário
Confesso que o traço me pegou pelo contrário
Reverso avesso indigesto
Manifesto

Eu peço
Despeço
Tropeço
Arremesso
Mas de resto
Só, sem acesso.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Pois não?

O tempo do tento descontento em contentação

Dispenso o consenso e o tenso da solução

Ao avesso do espesso eco de expressão

Desconexo convexo

Desconheço o apreço

Apurada estrada, escada de ilusão

Impulso avulso ao lado da inversão

Trancada parada estática

Em vão

Mentira desvira esquiva

E não

Mas diga

O tempo do consenso espesso

Desconexo ao apreço da ilusão

Ao lado trancada o vão esquiva

Conserte aperte encaixe

Disserte inerte latente

Caixão

domingo, 7 de dezembro de 2014

Mais um sobre o amor (ou sobre o que acho que seja)

Eu fui feita para ver o amor, de todas as formas, por todos os meios. Fui feita para sofrer com ele, para me apaixonar por ele, para pensar senti-lo. Fui feita para identifica-lo, para aprecia-lo, para reconhece-lo. Fui feita, provavelmente, de amor. Mas não fui feita para tê-lo. Não vivo dele. Não vivo com ele. Não somos amigos íntimos e não trocamos mensagens durante a madrugada.

Era fria a noite.
O cobertor parecia não fazer mais diferença.
Frio, chuva, barulho.
Eu adoro chuva.
Acho poética.
Eu sempre tive um desejo imenso de beijar alguém debaixo de chuva.
Clichê.


Eu acho que estar apaixonado é a maior ironia da vida. Parece que tudo dá errado ao se apaixonar. Nos tornamos as pessoas mais estúpidas quando estamos perto do alguém que se está apaixonado. Tudo é motivo de se corar o rosto, de se rir sem graça, de se perder o fio de pensamento só por olhar o alguém. É a maior ironia na vida de alguém. Se faz de tudo e parece que esse tudo está fadado a dar errado. A ser destrambelhado. A ser tropeçado. A ser avassalado. Eu nem sei o que estou sentindo. Não sei o que pôr para fora, pois não reconheço o que está por dentro.

Era quente a noite.
Os pensamentos de você agora me aqueciam.
Eu imaginava campos floridos e o sol queimando.

Eu nem gosto de sol.
Mas engraçado como uma cena ao sol de um casal apaixonado é clichê.
Gosto mais das cenas apaixonadas na chuva.
Também é clichê, mas eu prefiro.

Parece que a gente precisa sofrer de amor para escrever bonito. Precisa sofrer de solidão para filosofar sobre a vida. Precisa sofrer para aprender, para realizar a vida, se realizar, se perceber. Parece muita coisa que muitas vezes não é. A gente procura peculiaridades aonde muitas vezes não tem. A gente procura aonde não existe. Mas só parece. Mas é tudo suposição. (Só para mim). É tudo sempre suposição. E de suposição, morre muita gente todo dia.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

A Solidão de Sobremesa

(Duas décadas não é mole, não tá fácil pra ninguém. Muito menos pra mim)

Vim
Eu vim
Te vi
Me vi
Vim te
Vinte

O tempo passa e a gente vai crescendo. Vai crescendo e se aventurando por esse mundão aí que não espera por ninguém e só quer te ver sorrir.

A vida cresce e a gente vai se achando. Vai se achando e se perdendo, ao mesmo tempo tudo junto misturado. Um dia a gente descobre uma coisa e no outro já desaprende outra.

Os anos nos acertam e nos golpeiam sem dó nem piedade. Sem consciência das coisas. O tempo é cruel e inevitável, sem pausa ou bis.

É meio estranho completar outra década. Com consciência das coisas. É engraçado esses sentimentos que a gente tem. Eu sinto que tem vezes que a vida me incomoda. As pessoas, as situações.

Ano passado eu queria que chovesse. Hoje choveu. Um ano depois. E a vida me parece completamente diferente.

domingo, 12 de outubro de 2014

Não é mais Brincadeira de Criança

Eu não quero me sentir assim
desse jeito
Quando desaparece
e sai do conceito
Me explica de alguma forma
porque parece defeito
A sensação é tão boa
mas ingrata
Te arranca a pele
e maltrata
Te sangra a alma
e desidrata
Me persegue
por todos os cantos
Sai correndo e berrando
aos prantos
Dos dias sozinha
já me cansei de tantos
Não coloco mais pontos nos i's
ou mesmo os acentos
De certas banalidades
o mundo fica isento
Chame do que quiser
de acerto ou talento

mas

Me ajuda
não me deixe afogar
Me salva
me tira do mar
Me ache
não me deixe acordar
Me seja
me ensine a amar

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Só se foi, só se é, só se for

(Inspirado em nós, Emma. Em nossa época cinza que se coloriu e se complicou.)

É cinza. O dia a noite a tarde o entardecer e o amanhecer. Os dias meio que se mesclam meio que se embaralham porque no fundo não faz diferença no fundo poderia ser qualquer dia. A cinza cai. Como um cinzeiro que sempre está lá para aquilo carregar cinzas assim viram os momentos todos cinzas que passam caem e voam com o vento. É frio. Faz calor mas sinto frio mas por dentro é tudo frio quem disse que sinto calor? Mentira. Ah o cinza a cinza acinzentar isentar e inventar. Era tão mais fácil. Era só mas era mais fácil. As cores são tão difíceis pensar sobre elas combiná-las visti-las ser-las. O mundo colorido trás a esperança que não tenho trás o calor que eu não gosto trás o amor que me desafia e trás a dor que me persegue. O cinza não doía. Por que as cores doem tanto? Eu amo as cores. O colorido a vivacidade a paleta a diferença a individualidade a peculiaridade o cada um sendo um e ninguém mais. O cinza é tão tentador tão chamativo tão sedutor tão meu tão seu tão nosso. Era nosso. Agora somos das cores dos amores das dores da chama que arde bem aqui dentro bem lá no fundo que não consigo evitar mas que dói ao mesmo tempo que queima e é forte e destrói e constrói e vive. Por que sentir é tão complicado? Por que é tão difícil? Eu queria umas explicações que não existem só pra tentar entender mas não se entende simplesmente se sabe ou não se sente ou não se vive ou não. Se morre? Só de paixão.

domingo, 21 de setembro de 2014

Dolores

(Pra você, meu querido Kiko minha querida Kika. Eu disse que ainda te escreveria um texto, e que data mais propícia do que esta? Parabéns.)

Eu conheci uma senhora
que não era das dores
mas sim dos amores
vivia de penhores

Uma graça
simples e simpática
humilde
distante

Perguntei seu nome
ela hesitou
disse para eu não me preocupar
eu iria entender

Fiquei abismada
nada sabia
e comecei a reparar
em sua maestria

Como lidava com a vida
com as pessoas
com as dores
e os amores

E logo percebi
que não havia outro jeito
o seu nome simplesmente se revelou

Prazer, Dolores.