domingo, 17 de março de 2013

Passeio de Balão

Olhando lá do alto. Que beleza. Um campo enorme, perdido na noite. E no centro, uma fogueira. Parecia mágica. E pessoas e mais pessoas dançavam em volta. Beleza inimaginável. As pessoas festejavam, cantavam, se amavam.

Depois de certo tempo observando aquela imagem deslumbrante que me cegava, comecei a reparar na fogueira. Lá no meio, queimando. Sozinha. A fogueira. Que todos querem, todos desejam, todos observam. Dançam e cantam em volta dela. Tão solitária e única ali no meio. Ninguém chega perto o bastante. Os que chegam se queimam. E deixam ela com seu esplendor. Emanando luz e calor. Calor, ternura e harmonia. Que encanta mas ao mesmo tempo espanta. E todos cantam.

Faíscas saem daquele meio iluminando os cantos sombrios, as almas perdidas, os amores solitários. E ela continua lá, sozinha e maravilhosa no meio daquela gente. Aquele povo todo que festeja ao seu redor, clamando sua energia, sentindo sua harmonia, desejando o seu calor. Sem chegar perto, sem tocar. Porque se tocarem se queimam, se tocarem se machucam.

Ela lá e eles cá. Todos eles. Que a desejam como nunca, como seu calor que labareda pelo campo. Tão desejada e ao mesmo tempo tão temida. Amores e amores. Em volta e em todo canto. Ela lá querendo ser chamada para dançar, querendo festejar com eles mas é condenada a assistir tudo do melhor lugar da casa. Condenada a ver todos alegres ao seu redor sem poder fazer nada. Chamar atenção? Ela já tem atenção! Não é questão disso. Todo o seu fervor, toda a sua luz afasta os que se quer pensem em se aproximar. Aos poucos, vão desistindo.

O céu fechou. As nuvens vem chegando de leve e despercebidas. A festa é muito grande para se pensar em outra coisa. Chuva. Começa a chover e parece que ninguém repara. Dançam e cantam como nunca, festejam como se não houvesse amanhã. Do amanhã ninguém sabe e nem procura saber.

Daí uns poucos, as pessoas vão se recolhendo. Cada um para seu canto. A fogueira? Está se apagando. Está ali no meio deixando de ser. Nem a notam mais. O calor continua mas o povo já esqueceu. Se foi. Só sobraram cinzas. Cinzas de uma noite feliz. A fogueira ficou só. Anda só e está só. Todos que repararam, chegaram perto, se queimaram, já não se encontram mais. Nem sequer repararam que no meio das cinzas, como uma fênix que dali renasce, havia uma garota. Menina, moça, mulher. Escondida, camuflada pelas chamas e incapaz de se comunicar, incapaz de se deixar amar. Como a ave que ninguém detém, que ninguém contém.
Intocável. Inamável.

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