sexta-feira, 9 de agosto de 2019

dia 2

Hoje amanheceu quente. Engraçado como no verão, mesmo nublado, parece que fica um abafamento na rua. Ontem saí para passear por aqui e impressionantemente reparei que vários estabelecimentos fecham nesse período de agosto/setembro para férias. Ou seja, nem as pessoas do Porto ficam no Porto no verão. Aparentemente é uma coisa por aqui. No inverno acontece parecido, tem estabelecimentos que também fecham por um mês ou mais, porém acho que é por conta do frio mesmo.
Esses dias tenho sentido mais saudades que o normal. Não sei o que é exatamente, mas desde ontem tenho vontade de chorar quando penso em casa. E quando digo casa aqui não é necessariamente a minha casa, com as minhas coisas, a casa que vivia antes de vir pra cá. Casa aqui para mim é onde me sinto plena de uma maneira inexplicável, me sinto completamente segura de mim e do chão que estou pisando. Acho que essa casa pode vir a mudar de endereço, de cidade, de país. Mas, por enquanto, essa casa é Brasília. A cidade utópica no meio do cerrado no meio do território do Brasil no meio do continente no meio de uma placa tectônica. Meu país tropical, quente, tão imenso, tão diverso, tão rico, tão plural e tão incrível. Com uma história muito triste e dolorosa, assim como a de outros países que também sofreram com a colonização europeia, mas com muita resistência, muita cultura e muita transformação. Um país que tem vivido tempos sombrios e extremos. Me dói. Me dói no fundo do peito estar longe ao mesmo tempo que sinto um alívio imenso em poder olhar essa situação de fora. Tenho medo de como estaria se a estivesse vivendo de dentro. Tenho medo do que mais pode acontecer. Tenho medo de ficar. Tenho medo de ir. Tenho medo do dia de amanhã. Tenho medo.
Mas uma vez ouvi: "vai, e se der medo, vai com medo mesmo".

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

dia 1

Há meses não escrevo. Sinto muita falta dessa coisa de colocar pra fora elocubrações e pensamentos. Mas algo me acontece e eu não paro mais pra encarar a página branca que espera ser preenchida por ideias. 
Acordei hoje com esse desejo de preencher uma página em branco. Então pensei que poderia fazer algo como um diário, contando sobre acontecimentos, desejos e sensações vividas e vistas no dia a dia, e pensei que ele poderia trazer poesia para os dias frios e úmidos do Porto. Mas logo depois percebi que está em pleno verão por aqui e que a ironia de estar vivendo um verão tão frio, nublado e chuvoso era poesia pura para os olhos de quem busca admirar a beleza do cotidiano.
Sinto falta da minha máquina de escrever. Existe algo no fazer escrito que me preenche quando estou de frente a uma máquina de escrever. Sinto que sou tomada por uma súbita inspiração e que as palavras simplesmente escapam dos meus dedos e são carimbadas no papel. Sinto um poder tão grande em estar diante de tal máquina que não existe certo ou errado, existe o fluxo de pensamento que toma conta de mim e quando vejo, lá está a página preenchida por pensamentos meus que eu nem sequer sabia que estavam perambulando minha mente.
Agora preciso ir. O vento sopra, as janelas batem e os sinos tocam me avisando que já são 13:30 e eu ainda não saí da cama.

quarta-feira, 3 de abril de 2019

Do hábito ao fato


Pensei várias vezes em ti hoje, agora de noite. Te imaginei entrando pela porta, fazendo meu coração bater mais forte. Pensei no seu olhar encontrando com o meu. Teve até um momento que te vi saindo do bar, com aquele casaco bege, pra barrar o vento. Acho que é saudade. Misturada com carinho, e desejo de tá perto.

Fiquei mal acostumada com a sua presença embaixo do cobertor. Um simples esticar de braço e já encontrava seu corpo como obstáculo.
Caminho.
Passagem.
Paisagem carnal.
Quente.
Presente.

O sono fica inquieto e eu me pergunto a real necessidade que temos de criar esse tipo de dependência da outra pessoa. Não sei se chega a ser uma dependência mas talvez um costume. Ou um conforto.

Decerto eu não esperava me acostumar tão fácil assim.

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Quando dói mas não é de dor

(À minha coração.)

As lágrimas
Escorrem no meu rosto
Lavam minha alma
E você me diz que tudo bem
"Pode chorar, minha linda"
Mas as lágrimas
Não são de sofrimento
Não se chora só de dor
Elas são um lamento
Um canto silencioso
Que não se contém em mim
E dá um jeito de sair
Pra poder, então,
Gritar
Pelo seu olhar
Pelo seu toque
Pelo seu cheiro
Pela sua suave respiração
Que se encontra com a minha
No calor entre nossos abraços
No amor entre nossos beijos

E pensar
Que tinha dias
Que nem eu
Acreditava
Na força
Desse encontro
Arranjado pelo universo

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

hiato

Pensei em te pedir pra voltar
Pensei em te pedir pra ficar
Pensei em te pedir pra me levar
Contigo
Pra onde nossos corações pedissem
Pra onde o vento soprasse
Pra onde o horizonte deixasse de ser margem
Até acabar a gasolina
Para então
Descobrir
Ao teu lado
O canto da terra
A esquina de tudo
A aresta do mundo
E viver
No instante do agora
A realização positiva
Da nossa potência

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

devaneio amoroso-poético-trágico-mágico

Eu queria te escrever todos os poemas de amor que cabem em mim
Para eternizar os nossos dias nas letras que mancham o papel
Cada dia a mais é também um dia a menos um dia a mais
A gente caminha para um momento certo de um destino tempestuoso e inconcreto
Os encontros são realmente maravilhosos, não é?



sexta-feira, 29 de junho de 2018

projeção

e se acabasse agora? e se de uma hora pra outra você descobrisse que nada daquilo é mais? e, de repente, é como se um trovão caísse exatamente do meu lado enquanto eu caminho ao seu encontro. de repente me lembro de todos os momentos que olhei profundamente nos seus olhos e percebi que era aquele o lugar em que eu queria estar naquele momento. eu quero te ver e poder te olhar profundamente. e dizer, pros seus olhos, o quanto acho bonito ver eles tocando a minha pele, intensamente. como o calor que me queima facilmente, trabalhando a melanina que corre em minhas veias. o pulso. o batimento. vai. ficando. cada. vez mais acelerado quando encontra o seuolharemtodoocaosqueéveromundo. pausa. respira. toma uma água. acho que água é essencial. sou dessas mesmo. saio por aí disseminando e oferecendo. e pode me oferecer também, água é coisa que não se recusa. tipo cigarro. a menos que seja o último. porque não dá pra abrir mão daquele momento único em que você acende o seu último cigarro. a fumaça sai da boca como se fosse uma estrela que você sopra na imensidão. o vento se espalha e toca seu rosto suave e brando. branco. os lábios rosados se encontram num encaixe perfeito. e quando a língua se acomoda por ali, entre um beijo e outro, é uma imagem que ficou na minha cabeça feito tatuagem. feito cicatriz que marca a pele e deixa história pra contar. e dessa história vão ouvir falar. do encontro que aconteceu. e que ninguém percebeu. mas espere, são só alguns segundos de propaganda...

sábado, 24 de março de 2018

ainda assim, dói

fico esperando
você
virar a esquina
olhando pros lados
procurando seu rosto
na multidão

o espectro vasto
que encontro
de solidão
aqui dentro
me desperta
o coração

a gente sofre
mas a gente gosta
a gente se engana
diz que não sente (ou não quer sentir)
mas no fundo
a gente não controla

espasmos colaterais
compõe o meu sermão
que digo
em vão
com sutilezas escondidas
e declarações disfarçadas
acobertadas
e misteriosas
as verdades que se calam
no meu peito
pulsante
fervente
contente
carente
do seu olhar

que espero
virar a rua
pra encontrar

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

25

como se dá essa coisa?
me contaram uma vez
que todo mundo é meio do mesmo jeito
quando se trata de alguns assuntos
e esse era um deles
que a gente não sabe
que não aprende
só dando a cara a tapa
que se apanha
que se recebe um beijo
que se chora
que se cora
que se ri
que se olha
profundamente
nos olhos de outra pessoa
que se sente
intensamente
a felicidade queimando no peito
que se troca
dia após dia
o calor dos silêncios
o frio dos abraços
a distância dos encontros
e a proximidade de se estar só

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

ou vai ou racha

Eu fico tentando entender
algo sem explicação

Fico querendo dizer
mas hesito, será que não?

Fico esperando você
e se não vier
sigo
a caminhada não para
e eu caminho com quem caminha comigo
eu sigo com quem segue
não tenho tempo pra quem fica parado
ou mesmo
quem caminha devagar
o tempo urge
a vida corre
e os momentos de calmaria
são pra curtição
pra meditação
pra imensidão
e não pra ficar tentando entender
ou querendo dizer
se sim ou se não
se for vai
se não for fica
eu
sigo
e nosso caminhar
pode se alinhar
pode se afinar
pode se desafiar
se você deixar
se você quiser trocar
e se quiser compartilhar
o momento
comigo
um instante
um abrigo
um afeto

e nosso encontro, pra quando fica?