domingo, 20 de setembro de 2015

Entre

(Inspirado e dedicado àquele grupo lindo, que sempre nos convida a adentrar seu apartamento. Obrigada Grupo Tripé por, mais uma vez, me deixar entrar no seu quarto.)

Vem cá
me conta uma coisa
me diz se é isso mesmo que você sente
ou se vamos ficar cada um na sua
sendo gente

Vem cá
e me fala no pé do ouvido
que me quer
de lado ou mesmo
mal passado

Vem cá
me dar um jeito
e contar pra mim direito
que não basta ser amigo
tem que dormir todo mundo junto
amontoado

Vem cá
me ameaça de paixão
e vê se não me enche
vira cada um pro seu lado
pra se enxergar se olhando de costas

Vem cá
mas vem mesmo
porque pra te amar
eu preciso te mostrar
já que não sei falar

Vem cá
entra junto
vem morar aqui
vem se perder um pouco
e desistir do mundo lá fora

Vem cá
pra gente se entrar
pra gente se encontrar
pra gente se largar
pra gente se contar
depois

domingo, 6 de setembro de 2015

Eu não faço questão ao mesmo tempo que faço e não.

Como explicar
ou ao menos
Como começar a perguntar
a entender
Como se dá o processo
ou mesmo
O inverso

a dualidade
Que se enxerga
na diferença
O sorriso
e a seriedade

Lá de longe
observo
Inquieto
disperso
Convexo

o pretexto
Era o mesmo
mas não se concretizava
No espaço
entre a gente
Penetrante
cortante
Afiado

mas afinado mesmo
Foi sua nota
tocada

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Ao São

(Ao concerto do Madrigal de Brasília, que pude novamente assistir e me apaixonar.)

III.
Movimento inquietante
olhar distante
encontro permanente
mas que só
acontece
de longe

Movimento involuntário
que
ao contrário
do que se pensa
só bate de frente
quando indevido

IV.
No dado instante pertinente e relevante na tarde de sol quente se estende na minha frente e distante de repente, corre.

O encontro se faz conjunto quando passo a te entender, quando passo a dizer o que espero receber e me contenho para não pular em seus braços e seus cantos que de canto me encantam.

V.
O som que me arrepia
distrai
e se esvai no espaço
mas fica aqui dentro
guardado no peito
quente
contente
desponta
sorridente
atrás do teu sorriso
que chega sorrateiro
pelo canto dos lábios
mas que se denuncia
nos olhos
e no vermelho
do teu rosto

E eu me encanto
de um jeito
sem jeito
com esse seu jeito
e todo seu trejeito
apesar do seu conceito
ser meio
sem jeito
com todo
preceito
que se pode
ter

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

A Poética do Solilóquio

(Pela perda.)

Nada
Vazio
Encarando a imensidão
Ninguém sabe a dor da perda do outro
Ninguém conhece o sofrimento pleno

Imóvel
Estático
Paralisado perante o céu azul
Que pode ser escuro ou claro
Que pode ficar cinza também
Coberto de nuvens

Até cair água

A melhor água
Aquela que lava
Aquela poética
Que despenca e nos encharca
Sem pedir licença e sem se desculpar

O calado
A calada
Eu

Chega um momento que é só desolação
Chega uma hora que nem a emoção
dá conta

A gente pede baixa
Acerta a diferença
Desconta o tempo aproveitado
E paga o que restou

Mas de resto
Nem o processo
Nem o inverso
Vai dizer se foi bom
Ou ao menos
se valeu a pena

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Colisão

Eu me perguntava se era verdade
Mas duvidava da mentira
Enquanto ponderava o quase
E me despedia do talvez

A questão era simples
Mas requeria atenção
Exigia precisão
E fugia completamente da razão

Entenda
Não me leve a mal
Mas saiba que é normal
Eu olhar pro lado
E fugir do seu olhar

Ainda que eu queira
Eu esqueço de me lembrar
Que o contato da visão 
É quando se aprende a amar

domingo, 14 de junho de 2015

Nuvem

A sua maldade 
Me trás a saudade
Que eu nem me lembro 
Mas que me dói por dentro
O seu desejo 
Me trás o anseio
Que daqui pra frente 
Eu sigo contente
A sua saudade 
Me lembra a maldade
Que me faz sorrir por dentro 
E me esquecer ao relento 
O seu anseio 
Me trás o desejo 
Que hoje, contente 
Espero te ver de frente 
E mesmo que seja de repente 
Quero que saiba que quero 
Quero que saiba que lembro 
Quero que saiba que espero 
Quero que saiba que a sua maldade 
Sempre me deu saudade 
Daquele outro tempo 
Que veio antes 
da vida nos 
acontecer







sexta-feira, 12 de junho de 2015

Valentim

(Inspirado num lindo concerto de amor do Madrigal de Brasília.)

I.
Bomba pulsante
de calor incessante
sem descanso
passante
dispara

Músculo que contrai
sentimento que distrai
sem regra
intrínseco
vibrante


II.
A partir do momento que a espera é superada pelo desejo, que a vontade sobrepõe o medo e que se entende que não há outro jeito, a boca abre e a garganta dispara e canta e o que vem de dentro se sobressai.

O que dizer vai depender do prazer e do querer de se saber compreender o indizível incompreensível gesto manifesto do que é amar.

domingo, 7 de junho de 2015

Tudo Está à Venda

(Inspirado e dedicado à uma galera que me fez sair de mim e me fez sentir assim, pulsante. Obrigada Grupo Tripé pelo seu Novo Espetáculo.)

Uma inquietação que sobe por cima e desce escorrendo pelos dedos soltos. Pessoa solta. É tudo de verdade, mas se você acreditar pode virar representação, pode virar outra coisa, pode virar inquietação. Tudo de novo e voltamos ao começo e voltamos no desejo de dizer o que nos chama. O sangue pulsa nas veias e passeia pelo meu ser me tornando cada vez mais insaciável e tomado pelas palavras que não se calam e não me deixam dormir. Eu nem sei se quero mesmo dormir, não se quero me render à ilusão que é estar sujeito a ver o que minha mente planeja dentro de si. Mas as palavras me deixam cada vez mais sujeito. Eu só quero sair, só quero brincar, só quero tirar a roupa e dançar na chuva, quero pular corda e beijar um estranho. Me leva nessa viagem porque aqui eu não quero ficar. Não quero mais esse lugar quieto, dormente, sereno. Quero as noites frias e o descontentamento com o amanhecer. Eu quero que o dia dure uma semana e que essa semana seja o meu fim. Eu quero despertar. Quero seguir o pulso latente que me percorre por dentro e me tira da cama todas as manhãs que estou fadado a não reagir. Quero a brincadeira de me vestir diferente e reagir consciente ao poder que guardo aqui dentro. A gente sabe que o possui. Mas a gente não usa, a gente se acostuma e não revida quando leva porrada na cara. A gente vira as costas. Tá na hora de dar o murro. É nossa rodada no jogo. Nosso desejo. O povo. Outro dia eu presenciei uma fala que não acreditei, não consegui entender como aquela frase havia saído da boca de uma pessoa que eu julgava consciente das coisas. A luta deve vir de dentro, deve começar no peito e desabrochar até o pé, que finca no chão e não se arreda até conseguir. Vamos agora dançar e celebrar a alegria de estar aqui. Vamos pulsar junto dessa bateria. Vamos celebrar a alegria da luta e a força conjunta que nos cabe aguentar. Vamos alegrar que a batalha há de se findar para, enfim, podermos sentar. É tudo de verdade, mas se você acreditar pode virar relação, pode virar outra coisa, pode virar revolução.

terça-feira, 26 de maio de 2015

Aberração Cromática

(Estudo de personagem.)

Eu queria te contar uma história. [Não sei bem se devia ou se queria mesmo]. Ela começa outro dia, quando acordei de madrugada perturbada pelos meus sonhos. Acordei e não consegui mais voltar a dormir. Eu precisava pintar. Eu precisava colocar pra fora algo que se entalava e se escondia no meu peito, no meu sujeito singular e incomposto. O meu verbo é intransitivo e eu não consigo complementar. Eu tenho sede de me descobrir mas eu nem sequer sei acordar pra saber se de fato estou viva.

Olhei pela janela e só vi a escuridão. |Fechei| Eu não precisava de mais escuridão. Eu quero o claro, a claridade, a certeza, ou a incerteza mesmo. Mas a consciência. 

Branco. Quero tudo branco.

Não sai. Não sai. Nada sai!

Eu estou me sentindo imobilizada.

É como se eu fosse sendo amarrada por cada traço que eu não consigo dar, cada pincelada que eu hesito em performar.

Isso tem que acabar.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Sujeito

(Esse vai pras pessoas mais lindas que encontro toda segunda e quarta. "Porque o que a gente faz é amor." BAGGIO, Danielle.)

A presença é a única que acalma
É a única que preenche
A única que me aquece

A saudade é a que dói
É a que lá do fundo me faz lembrar
Que um dia você esteve aqui

Eu aprendi
Que não é só se falando
Que a gente vai se encontrar

Aprendi
Que a gente tem que olhar nos olhos
Pra poder confiar

Eu entendi
Que é só se tocando
Que se sente

Entendi
Que é só vivendo
Que se entende